por Paulo Diniz
(publicado na edição de 17/07/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A
continuidade da operação Lava Jato tem revelado um número cada vez maior de
partidos e lideranças políticas envolvidas no desvio de recursos públicos.
Entretanto, o Partido dos Trabalhadores segue firme como a agremiação que mais
intensamente tomou parte nos ilícitos até agora apurados, com três de seus
ex-tesoureiros atrás das grades. Assim, é inegável que o maior dano político
será mesmo sofrido pelo PT.
As
eleições municipais devem fornecer uma prévia de como o PT foi afetado, porém as
atenções se voltam mesmo para a perspectiva de 2018. O ex-presidente Lula, que
cada vez assume mais a postura de candidato, representa uma grande incógnita:
teria seu carisma pessoal sobrevivido à passagem do tempo, à crise econômica,
às investigações ligadas a seu nome e ao profundo desgaste que aflige seu
partido?
É
fato que, no universo da política, dois anos representam um prazo muito longo
para se fazer previsões. Porém, é possível saber muito a partir da estratégia
adotada pelas partes envolvidas, e nesse sentido, Lula já está indicando muito
de seu jogo. O primeiro elemento é seu distanciamento em relação a Dilma
Rousseff: desde antes do afastamento dessa, Lula já direcionava críticas à
política econômica do governo, algumas bem incisivas. Agora, se limita a vagas
promessas de “não abandonar” Dilma, destituídas da eloquência típica dos seus
discursos. A estratégia por detrás desse movimento é simples: evitar a
contaminação de seu nome pela impopularidade de Dilma. Tem potencial para
funcionar, principalmente se a nova equipe econômica falhar em gerar
crescimento e empregos.
A
novidade, portanto, reside no plano de Lula para lidar com o desgaste da imagem
do PT. Em entrevista à revista alemã Der Spiegel, desfiando um rosário de
críticas ao presidente interino, Lula afirmou que Michel Temer tem feito
mudanças profundas em seu curto período de governo, comparando-o
pejorativamente a “Fidel Castro e seus guerrilheiros”, que tomaram o poder e lá
estão “há 70 anos”. A referência de Lula ao regime cubano de maneira negativa,
associando-o a seu maior rival político da atualidade, representa um indício
importante da estratégia que o ex-presidente pretende seguir em 2018.
O
afastamento que Lula sinaliza em relação ao regime cubano, ícone mais estimado
pela esquerda brasileira, pode representar uma tentativa de preservar sua
imagem pessoal em meio ao colapso do discurso eleitoral petista. Dotado de
sensibilidade política, Lula parece ter percebido que talvez o público brasileiro
tenha se fartado da retórica típica da esquerda, tornando-a um empecilho a seu
retorno à Presidência: sob essa ótica, é provável que o populismo baseado em
programas sociais já não produza apelo popular como na década passada.
Lula,
assim, pode estar articulando uma profunda reinvenção de sua imagem política,
divorciado da esquerda e talvez até do próprio PT. Faz uso de sua força política
e de seu carisma pessoal para se adaptar ao novo cenário político brasileiro
que se desenha nos últimos anos.
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