por Paulo Diniz
(publicado na edição de 16/07/2015 do Correio de Uberlândia - Uberlândia, Minas Gerais - e na edição de 19/07/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A
recente crise do setor siderúrgico no Norte de Minas Gerais tem causado pânico
na região, ameaçada que está de sofrer duplamente os efeitos da desaceleração
da economia nacional. Além da redução da atividade econômica em todo o país,
agora o Governo Federal define, através da medida provisória 677, que apenas
empresas localizadas na área nordestina da Sudene poderão contar com preços
reduzidos de energia elétrica, enquanto o Norte mineiro, também incluído nessa
superintendência, perderá o benefício. Contra essa discriminação, empresários,
sindicalistas, trabalhadores e prefeitos da região se uniram em uma série de protestos
contra os governos estadual e federal, que mesmo sendo do mesmo partido,
apresentam dificuldade de entendimento sobre assunto tão importante.
A
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste foi criada pelo mineiro
Juscelino Kubitschek em 1959, que convidou para sua direção o economista
paraibano Celso Furtado, responsável por colocar em prática ideias inovadoras
para o desenvolvimento econômico da região. O Norte de Minas participa da
Sudene desde seu início, pois tem elementos de clima em comum com o Nordeste.
Conta o folclore político regional que coube a José Maria Alkmin, amigo e
ministro de JK, dar os retoques finais no mapa da Sudene em Minas Gerais:
afinal, era nativo da cidade norte-mineira de Bocaiuva.
Concentrada
na concessão de financiamentos à produção e incentivos fiscais, a Sudene foi
responsável pela instalação de várias indústrias no Norte de Minas, gerando
polos de riqueza ao longo dos anos. A refundação da Sudene em 2007, pelo então
presidente Lula, foi vista com bons olhos na região, uma vez que a
Superintendência havia sido extinta em 2001, após denúncias de corrupção. A
esperança foi em vão: a Sudene do período petista trouxe o vício de diferenciar
Minas Gerais dos estados nordestinos que também a compõem. Em 2009, a indústria
norte-mineira da cana de açúcar sofreu grande revés, quando a medida provisória
615 excluiu da região os benefícios concedidos à área nordestina da Sudene. Já
em 2010, a edição da medida provisória 512, que concedia incentivos para a
indústria automotiva, excluía de sua abrangência os municípios do norte
mineiro; ao ser convertida em lei no ano seguinte, essa medida foi alterada pelo
Congresso para incluir as cidades mineiras, uma alteração que foi sumamente
vetada por Dilma Rousseff. O Norte de Minas perdeu a oportunidade de receber
investimentos de grande porte, que hoje geram frutos em Pernambuco.
Perdendo
indústrias e dinamismo econômico, o Norte de Minas hoje vê irem embora bons
empregos e a renda de sua população. Seu povo caminha de volta para a simples
luta pela sobrevivência, situação na qual o Governo Federal se faz presente com
galhardia, oferecendo como benesse o auxílio social mínimo que impede a morte
por inanição. Não por acaso, em 2014 a votação petista foi predominante na
região, fruto da gratidão dos humildes, cada vez mais condenados a levar uma
triste vida de gado.