domingo, 30 de junho de 2013

Jogo de ação e reação

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 27/06/2013 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais- e nas edições de 03/07/2013 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais - e do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais)

As manifestações populares que agitam o Brasil têm sido discutidas intensamente por analistas políticos, em busca de respostas sobre seus motivos, funcionamento e rumos futuros. Entretanto, seria mais produtivo estudar os passos do Governo Federal, para se prever os próximos acontecimentos do cenário político.
É importante perceber que o foco dos protestos deixou de ser local para se tornar nacional: mesmo com todos reclamando de suas cidades, os culpados foram se tornando cada dia menos os prefeitos e governadores, e cada dia mais, a presidente Dilma Rousseff. O principal motivo é a forma como o Governo Federal vem investindo em propaganda para se fazer presente nos corações e mentes do povo. Se tal avalanche publicitária foi eficaz para associar o governo petista a toda boa notícia surgida desde 2003, também fez com que o povo se lembrasse rapidamente de Dilma como responsável pelos malfeitos recentes. Colocar-se em evidência, afinal, é submeter-se ao julgamento público.
A Copa das Confederações, por sua vez, tem servido como mais um catalisador da revolta: planejado para alavancar a idéia de “Brasil Grande”, o evento é lembrete constante da inversão de prioridades no uso dos recursos públicos, associando-os à gestão de Dilma. Reforça, assim, os efeitos da propaganda governamental.
Nesse contexto, integrantes do grupo governista se destacaram pela inabilidade política: seja assumindo a incapacidade de compreender o que se passa, convocando natimortas manifestações de apoio, ou mesmo anunciando com alarde ações já conhecidas. A grande questão reside no fato de que as manifestações se colocam como “reação” a problemas já existentes, e não como “ação” autônoma; assim, devem continuar respondendo aos estímulos que vêm do Governo Federal.
O caráter espontâneo e apartidário do atual movimento não se encaixa nas concepções de “povo” e “protesto” do PT. Por isso, partido e governo se sentem acuados pelos acontecimentos, e põem-se a buscar culpados entre seus adversários tradicionais, esquecendo-se  da incapacidade de reação política que a oposição vem demonstrando ao longo da última década. Defende-se contra um inimigo inexistente, e assim acaba por tocar no nervo exposto das ruas.  
A urgência que teve Dilma, no auge da efervescência das ruas, para se reunir com o marqueteiro João Santana constitui sinal de distanciamento da realidade. O descontentamento popular tem causas profundas, e não será satisfeito com ações publicitárias. A proposta de uma “constituinte limitada” à discussão da reforma política, assim, não só passa longe dos protestos populares, como também faz perigosa referência aos regimes populistas hispano-americanos. Dono da “chave do cofre” que concentra a maior parte dos recursos tributários do país, o Governo Federal tem instrumentos em mãos para melhorar a vida dos brasileiros; distribuir tais meios com estados e municípios já seria um avanço. Quanto à reforma política, essa será feita em 2014 pelos milhões de eleitores conscientes que agora ocupam as ruas.