por Paulo Diniz
(publicado na edição de 27/06/2013 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais- e nas edições de 03/07/2013 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais - e do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais)
As
manifestações populares que agitam o Brasil têm sido discutidas intensamente
por analistas políticos, em busca de respostas sobre seus motivos,
funcionamento e rumos futuros. Entretanto, seria mais produtivo estudar os
passos do Governo Federal, para se prever os próximos acontecimentos do cenário
político.
É importante
perceber que o foco dos protestos deixou de ser local para se tornar nacional:
mesmo com todos reclamando de suas cidades, os culpados foram se tornando cada
dia menos os prefeitos e governadores, e cada dia mais, a presidente Dilma
Rousseff. O principal motivo é a forma como o Governo Federal vem investindo em
propaganda para se fazer presente nos corações e mentes do povo. Se tal
avalanche publicitária foi eficaz para associar o governo petista a toda boa
notícia surgida desde 2003, também fez com que o povo se lembrasse rapidamente
de Dilma como responsável pelos malfeitos recentes. Colocar-se em evidência,
afinal, é submeter-se ao julgamento público.
A Copa das
Confederações, por sua vez, tem servido como mais um catalisador da revolta:
planejado para alavancar a idéia de “Brasil Grande”, o evento é lembrete
constante da inversão de prioridades no uso dos recursos públicos, associando-os
à gestão de Dilma. Reforça, assim, os efeitos da propaganda governamental.
Nesse
contexto, integrantes do grupo governista se destacaram pela inabilidade
política: seja assumindo a incapacidade de compreender o que se passa,
convocando natimortas manifestações de apoio, ou mesmo anunciando com alarde
ações já conhecidas. A grande questão reside no fato de que as manifestações se
colocam como “reação” a problemas já existentes, e não como “ação” autônoma; assim,
devem continuar respondendo aos estímulos que vêm do Governo Federal.
O caráter
espontâneo e apartidário do atual movimento não se encaixa nas concepções de
“povo” e “protesto” do PT. Por isso, partido e governo se sentem acuados pelos
acontecimentos, e põem-se a buscar culpados entre seus adversários
tradicionais, esquecendo-se da
incapacidade de reação política que a oposição vem demonstrando ao longo da
última década. Defende-se contra um inimigo inexistente, e assim acaba por
tocar no nervo exposto das ruas.
A urgência que
teve Dilma, no auge da efervescência das ruas, para se reunir com o marqueteiro
João Santana constitui sinal de distanciamento da realidade. O descontentamento
popular tem causas profundas, e não será satisfeito com ações publicitárias. A
proposta de uma “constituinte limitada” à discussão da reforma política, assim,
não só passa longe dos protestos populares, como também faz perigosa referência
aos regimes populistas hispano-americanos. Dono da “chave do cofre” que
concentra a maior parte dos recursos tributários do país, o Governo Federal tem
instrumentos em mãos para melhorar a vida dos brasileiros; distribuir tais
meios com estados e municípios já seria um avanço. Quanto à reforma política,
essa será feita em 2014 pelos milhões de eleitores conscientes que agora ocupam
as ruas.