por Paulo Diniz
(publicado na edição de 23/02/2013 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais - e na edição de 28/02/2013 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)
Quatro anos atrás, Belo Horizonte acompanhava os primeiros passos de Márcio
Lacerda como prefeito. Não se questionava sua capacidade gerencial e
administrativa, pois o passado como empresário de sucesso foi fator decisivo na
conquista da preferência do eleitorado da Capital. As dúvidas vinham do campo
político: não só o novo prefeito estreava nessa seara, como também tinha de
comandar uma coalizão de 12 partidos, incluindo os rivais PT e PSDB, cada um
representando um de seus principais fiadores políticos, o prefeito petista
Fernando Pimentel e o governador tucano Aécio Neves.
Reeleito em 2012 com facilidade, Márcio Lacerda aparenta ter vencido
tais desafios, se firmando no primeiro plano da política mineira. As aparências,
entretanto, enganam. Os quatro anos de seu primeiro mandato foram tensos, com
os conflitos entre seus apoiadores ganhando projeção na imprensa, enquanto o
prefeito se mantinha à distância, aparentando desinteresse. O mal-estar chegou
ao vice-prefeito, petista que se tornou inimigo jurado de Lacerda,
protagonizando episódios de afronta explícita a seu companheiro de chapa de
2008.
O rompimento da aliança em 2012, com a decisão do PT de lançar candidato
próprio na disputa pelo comando de Belo Horizonte, foi o ato final de uma tragédia
previsível. A forma como Márcio Lacerda compôs sua equipe em 2009, lenta e
misteriosamente, foi a receita ideal para o descontentamento entre os partidos
que o apoiaram. O argumento de que se buscava perfis técnicos, ao invés de
apaziguar os ânimos, foi visto como desprezo em relação àqueles que, no momento
da disputa política, tiveram méritos para levar o candidato do PSB ao poder. A
tentativa de separar hermeticamente as esferas política e técnica cultivou,
assim, rancores que poderiam facilmente ter sido evitados.
A relação com a Câmara dos Vereadores foi ainda mais distante,
turbulenta e confusa. Buscando se manter afastado do universo da política
partidária, Lacerda pouco tratou com o Legislativo, delegando todo o poder a
lideranças que, pelo próprio alheamento do prefeito, tinham sua legitimidade
questionada. Desligada do Executivo, a Câmara perdeu muito do sentido de sua
representação. Protagonizou uma sucessão histórica de escândalos, que foram do
prosaico ao ridículo.
A separação entre as funções técnica e política, valorizada por Lacerda,
é ingênua e ultrapassada. As últimas décadas foram pródigas em estudos que
comprovam o quanto o elemento democrático agrega qualidade ao serviço público. Os
ocupantes eleitos de cargos públicos devem interagir com o povo, diretamente e
através dos mecanismos democráticos de representação: assim se constrói
consenso, transparência e legitimidade, itens indispensáveis para uma boa
gestão.
Analisando em retrospectiva, o primeiro mandato de Márcio Lacerda à
frente da Prefeitura de Belo Horizonte foi um naufrágio político. A repetição
do mesmo padrão de comportamento, que aparece como tendência para o futuro,
promete mais tempestades para o horizonte da Capital.