segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Fracasso petista e o tabu da gestão

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 16/10/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

O período pós-eleitoral vem sendo dominado pela constatação do naufrágio eleitoral do PT. Os números são chocantes: nacionalmente, o partido perdeu cerca de dois terços das prefeituras que havia conquistado em 2012, enquanto em Minas Gerais, recuou de um total de 114 cidades para apenas 37. Esse número ainda pode mudar pelo resultado do segundo turno em Juiz de Fora, onde a eterna postulante Margarida Salomão tenta reverter a enorme vantagem obtida pelo atual prefeito. Porém é pouco provável que algum entusiasta do PT termine 2016 comemorando.
Há marcas simbólicas no fracasso petista: pela primeira vez em muitos anos, não há prefeito do partido no Vale do Aço; outras cidades industriais, como Contagem e Betim, também registraram um desempenho pífio dos candidatos petistas, além de Belo Horizonte, onde o representante do partido ficou muito distante de passar para o segundo turno. As principais conquistas do PT mineiro em 2012, Uberlândia e Ribeirão das Neves, foram palco de intenso repúdio popular aos atuais prefeitos: ambos terminaram a disputa em terceiro lugar. Entre as maiores cidades mineiras, o PT apenas conseguiu eleger prefeitos em duas: Alfenas e Teófilo Otoni.
Essa tragédia não pode ser atribuída inteiramente à descoberta recente de esquemas de corrupção bilionários na gestão de empresas públicas, e que tinham como um de seus beneficiários principais a instituição do PT. Se assim o fosse, outros partidos que tiveram lideranças envolvidas nessa parceria criminosa não teriam obtido desempenho positivo no pleito municipal. A crise econômica, que teve efeito crucial para o afastamento de Dilma Rousseff, certamente desgastou a imagem petista, porém esse fato não se comunica diretamente com os temas locais que interessam na disputa pelas prefeituras.
É possível apontar que a decadência petista tenha ocorrido a partir da incapacidade de renovação do partido: diante de um cenário global negativo, o PT e seus filiados não foram capazes de oferecer algo novo ao eleitor, uma esperança que pudesse ser associada aos candidatos do partido. O antigo discurso da participação popular nas decisões da prefeitura, inovação petista do início da década de 1990, foi oferecido novamente ao público, indicando uma desconexão completa do partido em relação ao eleitorado. Não apenas esse tema não representa novidade, como também vem sendo utilizado por candidatos de outros partidos nas últimas eleições.
Mais incrível ainda é a forma como o PT se mantém refratário a novos temas, negando-se a abraçar propostas que compõem de fato as preocupações da população. A eficiência na gestão pública, por exemplo, persiste como um verdadeiro tabu entre as hostes vermelhas, o que sempre permite aos adversários apontar o PT como incapaz de cumprir suas inúmeras promessas de políticas sociais.
Em uma perspectiva ampla, o ocaso do PT pode ser muito mais creditado aos erros recorrentes de suas próprias lideranças, do que à tradicional “conspiração das elites capitalistas” contra o partido.

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