(publicado na edição de 28/06/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Quatro
anos atrás, a imprensa internacional vivia um caso de amor pelo Brasil:
destacava o país que crescia em meio à crise internacional, gerava emprego para
seus nacionais e para milhares de estrangeiros, além de estar prestes a
explorar gigantescas reservas de petróleo. Previa-se, no exterior, que o Brasil
se tornaria rapidamente uma potência mundial decisiva. Hoje esse cenário de
euforia permanece, porém tem como protagonista a Índia, país com a segunda
maior população do mundo e um produto interno bruto 12% menor que o brasileiro.
Uma
das justificativas para a animação em torno da Índia é sua economia, que na
última década cresceu acima de 5% em nove anos, enquanto o Brasil só
ultrapassou esse patamar em três ocasiões. Assim como o Brasil, a Índia conta
com um grande mercado interno como propulsor autônomo de seu crescimento
econômico, especialmente porque alguns milhões de novos consumidores têm
deixado a pobreza extrema e se transformado em ávidos novos consumidores.
No
caso brasileiro, as expectativas de crescimento se frustraram sobretudo devido às
deficiências estruturais do país: faltou energia, mão de obra qualificada, um
sistema de transportes barato e eficiente, ao mesmo tempo em que sobraram
impostos, burocracia e altas taxas de juros.
A
Índia tem diante de si desafios semelhantes aos que frearam o Brasil, porém, a
diferença reside no fato de que no país do Oriente vem sendo implementado um ambicioso
plano de reforma no setor público, voltado para aumentar a eficiência do Estado
e agilizar o ambiente de negócios. Diferente do Brasil, na Índia não existe o
estigma ideológico contra a busca pela eficiência no setor público, que por
aqui a condenou como “neoliberal e antipopular”. Enquanto abandonamos as
reformas no final dos anos 1990, os indianos investem justamente nesse caminho.
O
atual mandatário da Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi, é saudado pela
imprensa internacional por buscar aproximação indistinta das nações mais
desenvolvidas, sendo que muitos qualificam essa atuação como benéfica para o
próprio cenário político mundial. Quando esteve diante de oportunidade
semelhante, o Brasil decepcionou: pautou-se por linhas ideológicas, priorizando
os regimes da esquerda hispano-americana e limitando suas opções políticas, e
pior, emprestou sua credibilidade a favor da legitimação de algumas das
ditaduras mais brutais do mundo, como a de Kadafi na Líbia, Assad na Síria e dos
irmãos Castro em Cuba. Assim, o Brasil saiu da cena mundial muito menor do que
entrou.
Por
fim, uma das principais discrepâncias entre Brasil e Índia se encontra em seus panoramas
federativos: ex-governador, Modi aposta no fortalecimento do equilíbrio da
federação como um dos pontos chave para o avanço da Índia; já o Brasil,
federação extremamente desigual em que o governo central fica com mais da
metade dos recursos fiscais, não tem esse assunto sequer como tópico da discussão
pública. Não será preciso esperar o futuro para perceber quem está no caminho
certo.