por Paulo Diniz
(publicado na edição de 14/06/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
conflito constante entre Executivo e Legislativo federais no Brasil está
prestes a ter mais um capítulo: a discussão em torno da redução da idade de maioridade
penal para o limite de 16 anos. O Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha, assumiu a mudança na legislação como uma meta pessoal, traçando rota de
colisão com o governo. Esse antagonismo indica a principal característica do
debate que está por vir: a contaminação da questão técnica pela disputa
partidária. O resultado final, portanto, vai depender mais de articulações políticas
de bastidores, do que dos reais efeitos da responsabilização criminal dos
menores para a redução da violência urbana no Brasil.
Estatísticas
de diversas origens mostram que a violência no Brasil tem se agravado cada vez
mais. A participação de jovens nessa tendência, mesmo que questionada em suas proporções
por diversos especialistas, também é fato concreto. Entretanto, talvez por
causar mais choque do que os crimes praticados por adultos, os atos dos menores
infratores acabam por receber intensa cobertura da imprensa, o que aumenta seu
impacto sobre as multidões amedrontadas das metrópoles. Isso explica, portanto,
o amplo apelo popular da proposta de redução da maioridade penal, que em alguns
levantamentos se aproxima de 90% do público; números demasiado atraentes para a
maioria dos integrantes da classe política.
O
argumento mais evidente hoje no Brasil se relaciona com endurecimento da
repressão policial, apoiado em exemplos de países estrangeiros. O que não se
menciona, entretanto, é que os EUA, baluartes da abordagem de “tolerância zero”
contra o crime, também têm a questão da delinquência juvenil fora de controle.
Ainda pior do que o Brasil, os EUA ainda têm que lidar com uma enorme e
dispendiosa população carcerária, composta tanto por adultos quanto por jovens.
O
outro extremo do debate encampa a tese marxista de que o comportamento humano
se resume à reprodução de relações econômicas: assim, credita-se aos baixos
níveis de renda a violência no país e o envolvimento dos jovens nesse quadro.
Típica dos anos 1980, essa argumentação também não guarda sozinha solução do
problema: afinal, o consistente aumento da renda média e do nível educacional
dos brasileiros nos últimos vinte anos deveria, sob essa lógica, ter reduzido
os índices nacionais de criminalidade.
Longe
da sede de vingança popular e do romantismo da visão socioeconômica defendida
por setores governistas, reside o caminho mais promissor para o problema: a
prevenção da violência, sumamente desprezada no atual debate. Essa perspectiva
considera os múltiplos aspectos do universo juvenil que contribuem para que os
menores se envolvam com o crime, oferecendo soluções que vão desde perspectivas
profissionais e econômicas até modelos de comportamento sociais nos quais se
espelhar. Assim, não será por falta de alternativa que a redução da maioridade
penal será aprovada no Brasil, mas sim pela busca de popularidade rápida por
parte de muitos políticos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário