sábado, 22 de dezembro de 2012

Ano-chave para o PT

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 28/12/2012 do Correio de Uberlândia - Uberlândia, Minas Gerais -, na edição de 26/12/2012 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais -, na edição de 22/12/2012 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais - e na edição de 05/01/2013 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais)
A crônica política nacional tem abordado, de forma parcial e fracionada, os grandes acontecimentos de 2012 que exerceram influência profunda sobre o Partido dos Trabalhadores, agremiação que completa, dentro de poucos dias, uma década no comando geral da nação. É preciso, assim, traçar um quadro global, como forma de se prever os obstáculos que tal partido terá pela frente em 2013.
As eleições municipais, grande aposta petista de 2012, trouxeram resultados decepcionantes nas maiores cidades, sobretudo nas capitais. São Paulo, cavalo-de-batalha pessoal do ex-presidente Lula, só foi conquistada mediante a formação de uma coligação emergencial, que dividiu muito o poder e ressuscitou os combalidos Paulo Maluf e Marta Suplicy. Uma vitória bastante relativa, pois cria um governo repleto de flancos expostos para os adversários.
O mais duro golpe, entretanto, vem da condenação dos principais réus do processo do mensalão, membros históricos do PT e figuras de maior destaque do primeiro mandato de Lula. Sendo agora impossível relegar o caso ao campo da fantasia oposicionista, o PT se encontra diante do dilema de encarar o problema de frente, refundando-se em lideranças e métodos, ou passar a viver sob o estigma de que é mesmo igual a outro partido qualquer. Considerando o sempre alardeado ineditismo petista em comparação às demais agremiações políticas, essa perspectiva equivale ao atestado de óbito de uma das mais significativas bandeiras do PT.
Também alguns fantasmas pessoais do ex-presidente Lula têm marcado presença neste final de ano, ameaçando afetar o PT como um todo. As novas denúncias de Marcos Valério e a rede de corrupção gerenciada pela Chefe de Gabinete da Presidência atingiram Lula em cheio, algo que se percebe por seu incomum silêncio. Partido nascido de amplas bases populares, o PT deve agora refletir se conclui de vez sua metamorfose para a categoria de agremiação "com dono", como foi o PDT de Leonel Brizola. Permitir que todo o partido compartilhe a sorte incerta de seu mais ilustre membro vai levar, certamente, o PT para um 2013 marcado por fortes emoções e, sobretudo, de parcas chances de sucesso.
Por fim, merecem destaque os índices de popularidade obtidos recentemente pela presidente Dilma Rousseff, recordes absolutos nas últimas décadas. A mensagem popular é clara, no sentido de que a população é mesmo fiel ao desempenho do governo, e não necessariamente ao carisma pessoal do mandatário. Tímida diante das massas, Dilma tem mostrado resultados que a colocam como excelente opção político-eleitoral para o Partido dos Trabalhadores, além de contribuir com a consolidação institucional do partido, pela renovação de suas lideranças. Apesar de muitos falarem já abertamente sobre o surgimento de um “novo PT”, a postura das principais lideranças não tem apontado nesse sentido.
O futuro do PT é, assim, em larga medida, uma questão das escolhas que serão feitas no corrente fim de ano. Longe do fim do mundo, a catástrofe petista se desenha mais como uma perspectiva de caudilhismo sindical, cada vez mais auto-referenciado e estéril.


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Campanhas Complementares

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 27/12/2012 da Tribuna de Minas - Juiz de Fora, Minas Gerais - e na edição de 11/12/2012 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)

      As recentes declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, virtualmente lançando a candidatura de Aécio Neves à Presidência da República, e dando início à disputa pelo Planalto com dois anos de antecedência, diminuem algumas das incógnitas a respeito do pleito geral de 2014. Dilma Rousseff deve buscar a reeleição sem contar com o apoio efetivo do ex-presidente Lula: longe do controle da máquina estatal e da intensa cobertura da mídia, é fato que Lula perdeu muito do poder que foi de grande valia para Dilma em 2010. No mesmo sentido, é bem provável que surjam ainda novos personagens de destaque nesse enredo, como o governador pernambucano Eduardo Campos e a ex-senadora Marina Silva. De toda forma, ainda são muitas as variáveis em aberto para que se possa fazer previsões seguras.
Algumas certezas, entretanto, podem ser detectadas em meio a um contexto tão incerto. O PSDB, através de seu novo presidenciável, deve tentar um esforço concentrado no sentido de tornar o senador Aécio Neves conhecido nacionalmente; tal movimento já foi colocado em prática no pleito de 2012, quando a presença do tucano mineiro se multiplicou pelos palanques de grandes cidades de todo o Brasil.
O raciocínio estratégico que faz sentido na escala nacional, pois busca apresentar o futuro candidato ao eleitorado brasileiro, deverá ter reflexos significativos em Minas Gerais. Partindo do pressuposto de que já é bem conhecido e avaliado em seu estado natal, Aécio deve investir pouco em sua campanha por aqui. Dessa forma, a campanha para escolha do próximo governador mineiro pouco contará com a presença de Aécio e, muito provavelmente, deverá mesmo ser estruturada como movimento de apoio ao pleito presidencial tucano.
Inverte-se, assim, a dinâmica que obteve grande sucesso em 2010, quando o estreante Antônio Anastásia foi francamente beneficiado pela associação feita entre sua imagem e a popularidade de Aécio Neves no estado. Para 2014, o candidato a governador do campo governista é quem deverá percorrer toda Minas Gerais, levando consigo não só sua própria campanha, mas também a do presidenciável tucano. Dessa forma, o nome a ser apoiado pelo PSDB mineiro na disputa pelo Palácio da Liberdade deve ser, já de antemão, popular e articulado, além de fiel e dedicado o suficiente para garantir a vitória do candidato tucano no segundo maior colégio eleitoral do país.
Uma vez que já começam a surgir as primeiras especulações em torno de nomes de possíveis candidatos, é bom lembrar que há condicionantes estratégicos que devem falar mais alto em 2014: o candidato indicado pelo governo à sucessão de Antônio Anastásia deve ser, necessariamente, o maior cabo eleitoral de Minas, e não alguém que necessite de apoio para se eleger. Qualquer postulante que não apresente esse perfil pode considerar suas chances de indicação em 2014 bastante remotas. Isso, claro, se partimos do pressuposto de que o PSDB deseja mesmo manter o poder em Minas, ao mesmo tempo que tenta retomar o Governo Federal.