por Paulo Diniz
(publicado na edição de 10/04/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
rompimento entre PMDB e PT, visto pela maioria dos analistas como uma prévia
das votações que definirão o impeachment de Dilma Rousseff, constitui-se como
um dos mais importantes acontecimentos políticos do ano. Não apenas está em
jogo o cargo maior da nação, como também a possibilidade de uma reação em
cadeia que pode atingir a política brasileira como um todo: mesmo com as
particularidades locais dos 27 estados e 5.570 municípios do país, é provável
que a mais nova rivalidade brasileira gere efeitos drásticos nas eleições de
outubro.
O
caso de Minas Gerais merece destaque devido aos fatores que uniram os dois
partidos. A surpreendente vitória de Fernando Pimentel em 2014, em primeiro
turno, só foi possível porque o petista pôde contar com a presença absoluta que
o PMDB tem no interior mineiro. Afinal, nem o passado de Pimentel, por demais
vinculado a Belo Horizonte, e menos ainda sua campanha, restrita às
cidades-polo do interior, o credenciavam para o sucesso que acabou acontecendo.
A aliança com o PMDB, dessa forma, não se funda na necessidade de apoio
legislativo, como ocorre no Governo Federal, mas sim na própria gênese do atual
governo mineiro.
Assim,
é possível imaginar que seja enorme a tentação para que o PMDB mineiro traia a
aliança com o PT, reproduzindo e se aproveitando do cenário federal. A rapidez
e decisão com as quais o vice-governador, Antônio Andrade, anunciou o
rompimento em relação a Dilma Rousseff foram surpreendentes, principalmente considerando
as profundas rivalidades que dividiam o PMDB mineiro há poucos meses. No mesmo
sentido, o recente boicote dos deputados do PMDB a votações de interesse do
governo na Assembleia Legislativa não contribui para dissolver a dúvida sobre a
solidez da aliança entre os partidos.
Entretanto,
o que difere profundamente as esferas federal da estadual, na consideração da aliança,
é muito mais o acaso do que a atuação política das partes envolvidas. Em Minas,
por exemplo, a gestão petista ainda é muito nova, não contando com o alto grau
de desgaste acumulado pelo partido em escala nacional; em um possível embate, o
PMDB mineiro não deve esperar contar com apoio popular. Na Assembleia
Legislativa não se acumulam rancores em relação ao Executivo estadual, assim
como ocorre no Congresso Nacional; esse fator de longo prazo, inclusive, talvez
seja o maior responsável pelo horizonte de tempestade que aguarda Dilma na
votação de seu processo de impeachment.
O
fator definitivo a diferenciar os dois cenários é de ordem legal: os problemas
que Fernando Pimentel enfrenta com a Justiça Eleitoral, relativos à sua
campanha de 2014, envolvem igualmente seu companheiro de chapa do PMDB. Uma
eventual cassação de mandato, portanto, não transferiria o poder a Antônio
Andrade da mesma maneira como seu correligionário Michel Temer espera receber
dentro de alguns dias. O posto de Fernando Pimentel está resguardado, por
enquanto, da cobiça de seus companheiros de chapa devido apenas à conveniência
do momento político.