por Paulo Diniz
(publicado na edição de 26/10/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Um
dos consensos entre os analistas políticos durante a atual corrida presidencial
é a pobreza do debate mantido entre os candidatos: poucas são as ocasiões nas
quais um questionamento dá origem a uma resposta por parte do adversário. A situação atual merece análise não só por se
tratar da anatomia da discordância entre as principais correntes políticas, mas
sim por evidenciar estratégias de campanha que, deliberadamente, rejeitam o
diálogo em favor de discursos unilaterais ensaiados.
A
troca de declarações unilaterais gira em torno de poucos pontos. Quando
confrontada com os escândalos de corrupção que marcaram as três gestões
petistas no Governo Federal, Dilma destaca a eficiência e liberdade de ação dos
órgãos de fiscalização e combate ao crime, o que não só deixa a afirmação inicial
sem resposta, como também a reforça, confirmando tacitamente que havia muita
corrupção. No mesmo sentido, as delações dos envolvidos no desvio de verbas da
Petrobrás recebem como resposta a acusação de que, na década de 1990, o então
presidente Fernando Henrique Cardoso cogitou privatizar a maior estatal
brasileira, o que novamente ilustra a forma como não se instaura uma dinâmica
de pergunta e resposta na discussão entre Aécio e Dilma.
O
campo governista enumera os programas sociais em funcionamento, promete
ampliação e acusa o oponente de querer cancelar tais iniciativas, enquanto ao
PSDB cabe o papel de proclamar a autoria das atuais políticas sociais, negar
intenção de cancelá-las e, assim como os petistas, prometer ampliação dos
benefícios. Em relação à proposta de reforma gerencial defendida por Aécio
Neves, a equipe de campanha do PT traz à tona as vicissitudes econômicas pelas
quais passou o Brasil durante a consolidação do Plano Real na década de 1990, o
que não só desloca o foco do futuro para o passado, como também permite que se
mantenha o tema da eficiência na gestão pública sob o completo domínio do
tucano.
Assim,
os debates promovidos por cadeias de televisão se assemelham a versões resumidas
da propaganda eleitoral, nas quais há apenas uma sucessão de afirmações sem
resposta. É clara a impressão de que cada parte julga estar no comando da
dinâmica eleitoral: a confiança total nos poderes do marketing político acaba
sendo a principal responsável pelo extermínio do debate político clássico no
Brasil.
É
preciso atenção, entretanto, pois o repertório de frases feitas lançadas ao
eleitor tende a enfastiar os ouvintes, gerando desinteresse ao invés de
popularidade. Nesse sentido, o discurso petista apresenta um grau maior de
vulnerabilidade, pois usa a comparação com os mandatos de FHC como argumento
principal de campanha pela quarta eleição consecutiva, o que reduz
definitivamente o efeito de tais ideias sobre o eleitorado. O risco de ousar,
saindo do roteiro das afirmativas ensaiadas, tende a ser mais compensador para
Aécio Neves, considerando o desgaste natural da argumentação petista; a
proposta de mudança e renovação, assim, deve ter início no discurso.