por Paulo Diniz
(publicado na edição de 26/01/2013 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais - na edição de 25/01/2013 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)
A eleição para
a Presidência da Câmara dos Deputados, prevista para ocorrer no início de
fevereiro, se anuncia como um dos eventos políticos mais importantes de 2013.
Como não se trata de ano eleitoral, no qual os partidos podem medir forças nas
urnas, o que se poderá avaliar em 2013 serão as alianças de âmbito nacional,
cuja conformação será decisiva em 2014. A regra histórica, segundo a qual o
partido de maior bancada indicava o presidente da Câmara, foi pulverizada pela surpreendente
eleição de Severino Cavalcanti em 2005. A presidência da Câmara passou
efetivamente a ser disputada, mesmo que sob formato inusitado: oposição se
articulando com setores “menos fiéis” da base de apoio governista.
Hoje o PMDB
possui a maior bancada na Câmara dos Deputados, tendo por isso indicado o
potiguar Henrique Eduardo Alves à Presidência da casa. Fiel à sua natureza
fragmentária, o mesmo PMDB tem outro postulante ao posto, a deputada capixaba
Rose de Freitas. O que mais chama a atenção, entretanto, é a candidatura do
mineiro Júlio Delgado (PSB), que se coloca como confluência de diversas forças
políticas.
O PSB compõe,
há bastante tempo, a base de apoio do Governo Federal petista, ao mesmo tempo
que, em Minas Gerais,
integra o Governo Estadual tucano. Não é o único partido nessa posição, porém,
o crescimento alcançado pelo PSB nos pleitos de 2010 e 2012 o tornou o apoio
mais cobiçado pelos presidenciáveis do ano que vem. Prova disso é que Dilma
Rousseff, avessa à gerência das articulações políticas de seu governo, tem se
reunido freqüentemente com o comando nacional do PSB, certamente buscando
manter a proximidade com seu aliado. Entretanto, isso não soluciona o principal
pleito do PSB: mais espaço no Governo Federal. O governador pernambucano
Eduardo Campos, maior liderança partidária, não perde a oportunidade de
externar sua insatisfação com essa parceria, apesar de ainda não assumir
publicamente posições em relação à disputa de 2014.
O lançamento
da candidatura de Júlio Delgado, parlamentar de trajetória propositiva e
consistente, pode ser tomado como um sinal claro de dissenso entre o PSB e o
governo Dilma. Mais ainda, reforça essa suposição o fato de Delgado representar
o PSB mineiro, aliado de longa data do presidenciável tucano Aécio Neves. Está
exposto, assim, o primeiro rascunho oficial da tão aventada aliança entre Aécio
e Eduardo Campos, com vistas às eleições gerais do ano que vem.
O apoio que
Júlio Delgado obtiver em sua tentativa de comandar a Câmara dos Deputados terá
significado vital para as alianças nacionais que se formam. Representa não só
uma fissura no bloco governista, mas principalmente, o potencial da hipotética
chapa PSDB-PSB granjear simpatia e aprovação de deputados de todos os partidos
e estados do Brasil. O fracasso desse teste não inviabiliza a parceria, mas com
certeza, vai obrigar seus arquitetos a refazerem drasticamente seus projetos
políticos. Mais do que nomes, serão as alianças políticas de 2014 que estarão
disputando votos em fevereiro.