por Paulo Ricardo Diniz Filho
(publicado na edição de 26/09/2023 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Já há alguns meses que a imprensa tem constantemente uma pergunta na ponta da língua quando o assunto é Romeu Zema: será o governador mineiro candidato à Presidência da República em 2026? A resposta é sempre evasiva, mas nunca a ponto de colocar uma pedra sobre o assunto. Como ainda estamos distantes de definir o quadro eleitoral, qualquer resposta do governador já é suficiente.
Porém,
como já dito nesta coluna em outras oportunidades, a política se faz no campo
do óbvio. Qualquer plano secreto, não tem qualquer relevância enquanto permanece
secreto – e assim que começa a ser colocado em prática, está visível aos olhos
de todos. As ações de Zema nos últimos meses têm toda a veemência que falta às
suas palavras. O governador entregou o comando de sua gestão ao vice, Mateus
Simões, e partiu para uma bem planejada trajetória de construção de imagem – de
acordo com os padrões de gosto nacionais, e não mais apenas para paladares
mineiros.
Um
exemplo é a recente viagem a Nova York, no momento que todos os olhos estavam
voltados para a abertura dos trabalhos anuais da Assembleia Geral das Nações
Unidas. Mais do que estar sob os holofotes, Zema em Nova York puxa para si um
pouco das atenções que estão concentradas em Lula – não chega a ofuscar o Presidente,
mas certamente desafia sua hegemonia sobre o noticiário brasileiro.
É
bom lembrar que Zema acabara de retornar de uma quinzena em terras italianas,
onde produziu uma profusão de imagens de dinamismo e sofisticação – além do carismático
encontro com o Papa Francisco. Desconstruir a imagem folclórica do mineiro
introspectivo e pouco ambicioso, pejorativo no imaginário dos brasileiros, é a
importante meta que Zema vem se dedicando a realizar nesse momento de sua
trajetória nacional.
É
possível medir o compromisso de Zema com sua ambição presidencial a partir do
quanto a gestão mineira assumiu novos contornos em 2023: abertura de espaço no
governo para lideranças da política tradicional, relacionamento estável com o
Legislativo, abertura progressiva em relação às Prefeituras Municipais, além de
vários outros sinais de menor envergadura – como rearranjos no quadro de
lideranças operacionais. Em poucas palavras, a atual gestão mineira é muito
mais política, e menos empresarial, o que indica que Mateus Simões não apenas
ocupa o espaço vago enquanto Zema se ausenta – o vice-governador efetivamente
governa, dando cada vez mais a sua assinatura à atual gestão.
Em
uma leitura ainda temporária e superficial, levando em conta o histórico
administrativo do período 2019-2022, é possível arriscar que esse novo arranjo
governativo representa uma melhoria para Minas Gerais.
De
carreira pública, Matheus Simões dá sinais de que vai aproveitar bem melhor o
potencial da burocracia estadual mineira – de longe, a mais competente e
inovadora do país – assim como dos especialistas em gestão pública do nosso
estado. Àqueles que ascenderam por recitar de cor os slogans superficiais do
primeiro mandato, talvez caiba um espaço no palanque.