por Paulo Diniz
(publicado na edição de 05/10/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
noticiário recente tem apresentado quadro ambiental desalentador no Brasil: da
falta de água nas cidades até o catastrófico esgotamento da nascente do rio São
Francisco, as novidades assustam. Começa a ficar claro que a imediata
sobrevivência humana depende da priorização das questões ambientais. Dessa
forma, o cenário político será afetado, dentro em breve, por uma nova categoria
de demandas populares.
Entretanto,
a mesma política que sofrerá as consequências da crise ambiental é também responsável
por boa parte da degradação que hoje vivenciamos. O uso dos recursos naturais,
que gera efeitos sobre toda a população, é tema de discussão e interesse
coletivo, portanto, compõe uma dinâmica eminentemente política: decidir que
algumas pessoas não podem converter a natureza a seu redor em benefício apenas
individual, para com isso viabilizar o bem estar de populações desconhecidas e
distantes é, com certeza, algo que demanda discussão coletiva intensa e
consenso bem negociado. Dessa forma, o processo de debate político serve para
construir decisões legítimas, ou seja, aceitas pela maioria da população;
quando tudo isso funciona, o Estado demanda menos força, fiscalização e
recursos para concretizar os objetivos coletivos.
A
questão ambiental no Brasil, até hoje, tem servido como exemplo negativo do
debate coletivo sobre a preservação dos recursos naturais. Motivos de duas
ordens contribuem para tal cenário: sociológicos e políticos. Sob a perspectiva
sociológica, as obras clássicas que analisam o povo brasileiro são unânimes em
apontar a matriz privatista da cultura brasileira: desde o período colonial, as
referências principais têm sido a casa e a família. Sendo assim, é pouco
familiar ao brasileiro abrir mão de um conforto privado em prol de um benefício
público; afinal, a esfera pública é categoria que, para nós, guarda pouco
significado. Consequentemente, acaba cabendo ao Estado, mais do que em outros
países, fazer uso de sua força para preservar o meio ambiente, coibindo
indivíduos de explorar a natureza ao máximo nos limites de sua propriedade
privada.
Por
sua vez, no campo dos fatores políticos, o Estado tem seu poder erodido pela
dinâmica eleitoral: poucos governantes estão dispostos a tomar medidas
impopulares contra os interesses individuais de seus eleitores, e assim
arriscar perder votos no próximo pleito, principalmente quando o benefício a
ser produzido é público, e portanto pouco percebido pela população. Conhecida
no campo da Ciência Política como “dilema do político”, essa dinâmica faz com
que, por exemplo, prefeitos deixem de implementar corretamente a legislação de
uso e ocupação do solo urbano, resistindo em impedir empreendimentos e
ocupações irregulares em áreas de preservação.
As
críticas ao discurso ambientalista de Marina Silva, apontado por muitos como
inimigo do desenvolvimento, estão com os dias contados: dentro em breve, será valorizado
o governo que providenciar água a seus cidadãos, e não mais autossuficiência em
petróleo.
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