quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O outono do patriarca

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 03/10/2012 do Hoje em Dia - Belo Horizonte, Minas Gerais)
 
     Pesquisas de opinião de diversas fontes indicam que Hugo Chávez, no poder na Venezuela desde 1999, se aproxima de sua quarta eleição presidencial com a expectativa de conhecer uma inédita derrota nas urnas. Ícone da onda de populismo que tomou a América Hispânica durante a última década, Chávez foi apoio decisivo para a implantação de regimes semelhantes ao venezuelano na Bolívia, Equador, Paraguai e Nicarágua, além de ter oferecido assistência crucial à sempre combalida economia cubana. Sem dúvida, um ator político que alterou profundamente o cenário ao seu redor.
     Como político populista clássico, Chávez construiu sua carreira em torno do culto à própria personalidade, criando na população uma relação pessoal e de dependência para com seu líder, dotado de qualidades sobre-humanas. Nesse sentido até mesmo os restos mortais de Simon Bolívar foram exumados por Chávez, em uma tentativa de associar sua imagem à do herói nacional. Trata-se do fenômeno descrito como “dominação carismática” pelo sociólogo alemão Max Weber: ao mesmo tempo que produz altos níveis de fidelidade popular, tal tipo de poder é pessoal e intransferível, precisamente por se basear nos sentimentos que o povo devota a seu governante. 
     Entretanto, a grave doença diagnosticada em Hugo Chávez em 2011 funcionou como duro golpe sobre as bases “carismáticas” de seu poder. Subitamente, o presidente passou a ser visto como um ser humano comum, passível dos mesmos riscos e limitações; muito diferente do perfil digno de super-herói, divulgado por uma mídia controlada pelo governo.
     A campanha presidencial na Venezuela tem sido um lembrete ao eleitor das limitações do “mito carismático” de Hugo Chávez: é incessante o ritmo de viagens do jovem Henrique Capriles, líder nas últimas pesquisas de preferência popular, o que mostra seu vigor físico e estabelece clara contraposição em relação ao atual presidente. Não é à toa que grupos partidários de Chávez têm tentado, de várias formas, restringir a mobilidade de seu oponente pelo país.
     Para além do destino pessoal de Hugo Chávez, é importante pensar o futuro das estruturas políticas, sociais e estatais implantadas por esse, e que agora devem passar por reformas – dissociando-as do assistencialismo populista – sem afetar os benefícios concedidos à população carente.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O fim do “Dilmasia”

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 04/10/2012 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais - e na edição de 03/10/2012 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais - e do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)
 
             As eleições municipais se aproximam em Minas Gerais, e com essas, a formação do cenário no qual acontecerá a disputa presidencial de 2014. A princípio, essa deve ser a primeira ocasião na qual não estarão presentes personagens de destaque do período de redemocratização brasileira, o que configura uma interessante renovação na política nacional.
O sucesso do Senador Aécio Neves, principal postulante à Presidência da República no campo da oposição, depende de uma sólida base de apoio em seu estado de origem, até mesmo para vencer a resistência das lideranças paulistas que tradicionalmente dominam seu partido, o PSDB. O futuro de Aécio está associado diretamente aos resultados que surgirão das urnas nos 853 municípios mineiros. Mais do que eleger apoiadores, entretanto, será preciso conquistar aliados, fiéis o suficiente para romper com a “dupla fidelidade” criada em 2010, que levou muitos prefeitos mineiros a apoiar a chapa informal “Dilmasia”: um tucano no Palácio da Liberdade, e uma petista no Planalto. O conflito evitado em 2010 deverá ocorrer obrigatoriamente em 2014, e a lealdade dos prefeitos mineiros será peça fundamental em qualquer estratégia eleitoral.
Considerando esse cenário geral, pode-se perceber que os objetivos tucanos apresentam boas chances de se concretizarem: na maioria das grandes cidades mineiras, candidatos que compõem sua base estadual de apoio aparecem como favoritos para a vitória, com destaque para a capital, onde o PT se retirou por completo da administração municipal, após praticamente duas décadas, como resultado das turbulentas articulações pré-eleitorais. Também deve ser notada a liderança do PSDB nas vizinhas Betim e Contagem, cidades metropolitanas com grande eleitorado operário e tradicionais administrações petistas, que caminham para ter prefeitos tucanos durante a campanha presidencial de 2014.
A base de apoio do PSDB mineiro também promete avanços significativos nas cidades de Governador Valadares, Montes Claros, Teófilo Otoni e Varginha, grandes colégios eleitorais que se encontram sob o comando de prefeitos de oposição. O grande contraponto a essa perda de espaço do PT parece vir de duas das maiores cidades mineiras, Uberlândia e Juiz de Fora: em ambas campanhas locais, a participação ativa do Senador Aécio Neves e do governador Antônio Anastasia não têm tido efeito para reverter o prognóstico negativo que se coloca diante dos candidatos tucanos, falando mais alto o desejo do eleitorado de experimentar o chamado “modo petista de governar”.
A riqueza da política mineira não permite que se trace previsões confiáveis tendo por base apenas os maiores colégios eleitorais do estado; cada uma das 853 cidades de Minas é um universo político por si só, com suas próprias dinâmicas e rivalidades locais. Porém, é inegável o esforço do PSDB mineiro em conquistar mais espaço junto às administrações municipais do que em qualquer passado recente. Os últimos resultados das pesquisas eleitorais mostra que a o projeto do partido para 2014 é uma empreitada que deve ser levada a sério, tanto por aliados quanto por adversários.