por Paulo Diniz
(publicado na edição de 26/06/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
noticiário político recente tem se concentrado sobre o processo de cassação de
Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara dos Deputados, o que coloca em
evidência figuras pouco conhecidas do público. Personagens como a baiana Tia
Eron, deputada federal que desapareceu no momento de proferir o voto derradeiro
sobre o futuro de Cunha no Conselho de Ética da Câmara, hoje impressionam a
opinião pública com seus padrões de comportamento pouco apropriados para alguém
que recebeu a confiança de mais de cem mil pessoas. A representatividade do sistema
político brasileiro, portanto, é tema que precisa ser bastante discutido.
O
principal componente da democracia não é apenas sua capacidade para escutar as
maiorias, mas sim a maneira como permite a participação das minorias no
exercício do poder. Nesse sentido, a democracia representativa brasileira
mostra condições formais para cumprir com tal função: nossa sociedade é
diversa, e não há dúvida de que o Legislativo Nacional já reflete uma parte
desses extremos e contradições.
A
questão, portanto, é: quais interesses representam personagens como Tia Eron? Trata-se,
basicamente, de uma componente do grande grupo denominado “baixo clero”, ou
seja, aqueles que não ocupam qualquer lugar de destaque no Parlamento. É
possível imaginar que tais parlamentares sequer têm pretensões de alcançar fama
e glória na política.
A
principal preocupação dos deputados que compõem o “baixo clero” parece ser
mesmo a de se manter no cargo, o que os leva a mirar constantemente na próxima
eleição. Dessa forma, procuram de todas as formas mostrar resultados apenas
para as pessoas que votaram neles no pleito passado. O horizonte limitado
desses parlamentares não é, por definição, um problema: na pior das hipóteses,
ajudam a manter a situação atual, que lhes permitiu a chegada ao poder.
A
questão principal não se relaciona tanto com a ação dos políticos, mas sim com
a ausência de ação do eleitorado. A prática da representação pressupõe que o
público tenha consciência do sistema político, e assim faça uso desse para
levar à atenção do Poder Público suas demandas. O entrave brasileiro reside,
portanto, nessa equação aparentemente simples: em um país com mais de 35% de
analfabetos totais e funcionais, qualquer transmissão de conhecimento se torna
uma tarefa extremamente difícil. Uma grande parte da população, assim, tem sua
participação na política condicionada pelo jogo de aparências realizado por
muitos candidatos, especialmente os membros do “baixo clero”.
Esse fenômeno tem
efeitos que vão além da baixa representatividade de parte da população
brasileira junto ao poder. Quando um deputado não se sente vigiado por seus
eleitores, passa a se comportar de acordo com uma dinâmica individualista, o
que dita os rumos da Câmara como um todo: não se forma maioria sem o
consentimento desse grande grupo, o que obriga qualquer governo a atender às
vontades pontuais e superficiais do “baixo clero”. Dependemos, assim, da
educação para romper esse ciclo