por Paulo Diniz
(publicado na edição de 17/04/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A
crise política da esfera federal vem se agravando em duração e intensidade
inéditas na história brasileira recente. Um efeito curioso dessa situação se
produz hoje sobre os políticos, que parecem não mais ter limites para o que
propõem. É nesse ambiente, de liberdade absoluta, que o ex-presidente Lula
volta a Brasília para atuar como articulador político de sua sucessora. Não há
dúvida de que se trata de alguém hábil na lida com os demais políticos, porém a
questão principal diz respeito à capacidade de Lula realizar milagres: será
possível reverter o incrível grau de desgaste atingido por Dilma junto ao
Congresso e à sociedade?
As
ações patrocinadas por Lula, se não forem suficientes, ao menos estão voltadas
para a direção certa: ouvir deputados e buscar atender seus interesses
políticos em um ano eleitoral. A negociação de cargos no governo federal em
troca de votos contrários ao impeachment, por mais que escandalize a opinião
pública, ao menos significa que o grupo governista não ficará inerte durante o próprio
linchamento político.
O
ativismo político de Lula, entretanto, também pode ser uma notícia ruim para
Dilma: vem ganhando forças uma proposta inédita de antecipação das eleições
presidenciais para outubro próximo. Esse plano surgiu nos bastidores petistas,
segundo jornalistas que frequentam tal ambiente, ganhou as manchetes por meio
de figuras do PMDB que ainda se relacionam com Lula, e agora a ideia caminha
por conta própria, esposada por figuras que se opõem ao governo. Em sua turnê
pelo Brasil, na qual discursa para plateias cuidadosamente selecionadas, Lula
tem feito discursos intensos, que mesclam a defesa da pessoa da presidente com
o ataque à política econômica do governo: uma mensagem que só faz sentido se
interpretada como promoção personalista do próprio Lula.
É
justamente essa perspectiva que permite traçar um cenário para a política
brasileira no momento posterior à votação do impeachment de Dilma Rousseff.
Qualquer que seja o resultado que emergir do plenário da Câmara dos Deputados,
é certo que a proposta de eleições antecipadas não perde força nem defensores.
Lula, por exemplo, continuará em maus lençóis: no caso de sobrevivência do
governo de Dilma, ele permanece em evidência devido às investigações ora em
curso que o têm como objeto; já na ocorrência de um novo governo, Lula não
poderá mais contar com o relativo apoio institucional do qual desfrutou até
hoje em sua defesa. A possibilidade de assumir diretamente o poder, e assim
enfrentar sua situação pessoal em condições mais vantajosas, pode servir como
motivação irresistível para que Lula patrocine abertamente a proposta de
antecipação das eleições de 2018.
Por
incrível que pareça, figuras políticas dos mais variados matizes tencionam aderir
ao movimento, animadas pela perspectiva de chegada mais rápida ao poder pela
via eleitoral. O fato é que, passada a votação do impeachment, ainda é pouco
provável que o Brasil vá viver momentos de tranquilidade política no curto
prazo.
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