terça-feira, 14 de junho de 2016

No pós-impeachment, eleições antecipadas

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 17/04/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

A crise política da esfera federal vem se agravando em duração e intensidade inéditas na história brasileira recente. Um efeito curioso dessa situação se produz hoje sobre os políticos, que parecem não mais ter limites para o que propõem. É nesse ambiente, de liberdade absoluta, que o ex-presidente Lula volta a Brasília para atuar como articulador político de sua sucessora. Não há dúvida de que se trata de alguém hábil na lida com os demais políticos, porém a questão principal diz respeito à capacidade de Lula realizar milagres: será possível reverter o incrível grau de desgaste atingido por Dilma junto ao Congresso e à sociedade?
As ações patrocinadas por Lula, se não forem suficientes, ao menos estão voltadas para a direção certa: ouvir deputados e buscar atender seus interesses políticos em um ano eleitoral. A negociação de cargos no governo federal em troca de votos contrários ao impeachment, por mais que escandalize a opinião pública, ao menos significa que o grupo governista não ficará inerte durante o próprio linchamento político.
O ativismo político de Lula, entretanto, também pode ser uma notícia ruim para Dilma: vem ganhando forças uma proposta inédita de antecipação das eleições presidenciais para outubro próximo. Esse plano surgiu nos bastidores petistas, segundo jornalistas que frequentam tal ambiente, ganhou as manchetes por meio de figuras do PMDB que ainda se relacionam com Lula, e agora a ideia caminha por conta própria, esposada por figuras que se opõem ao governo. Em sua turnê pelo Brasil, na qual discursa para plateias cuidadosamente selecionadas, Lula tem feito discursos intensos, que mesclam a defesa da pessoa da presidente com o ataque à política econômica do governo: uma mensagem que só faz sentido se interpretada como promoção personalista do próprio Lula.
É justamente essa perspectiva que permite traçar um cenário para a política brasileira no momento posterior à votação do impeachment de Dilma Rousseff. Qualquer que seja o resultado que emergir do plenário da Câmara dos Deputados, é certo que a proposta de eleições antecipadas não perde força nem defensores. Lula, por exemplo, continuará em maus lençóis: no caso de sobrevivência do governo de Dilma, ele permanece em evidência devido às investigações ora em curso que o têm como objeto; já na ocorrência de um novo governo, Lula não poderá mais contar com o relativo apoio institucional do qual desfrutou até hoje em sua defesa. A possibilidade de assumir diretamente o poder, e assim enfrentar sua situação pessoal em condições mais vantajosas, pode servir como motivação irresistível para que Lula patrocine abertamente a proposta de antecipação das eleições de 2018.
Por incrível que pareça, figuras políticas dos mais variados matizes tencionam aderir ao movimento, animadas pela perspectiva de chegada mais rápida ao poder pela via eleitoral. O fato é que, passada a votação do impeachment, ainda é pouco provável que o Brasil vá viver momentos de tranquilidade política no curto prazo.

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