por Paulo Diniz
(publicado na edição de 22/05/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
afastamento da presidente Dilma Rousseff gerou um turbilhão de fatos que
estarão presentes certamente nos livros de história. Merece destaque a sutil
vingança do senador Fernando Collor, que usou a narrativa petista de “golpe de
Estado” contra Dilma para indicar que o impeachment por ele sofrido em 1992 foi
muito mais simplificado e apressado; sob essa lógica, portanto, teria ele
também sofrido um “golpe”. Arrematando seu discurso, Collor afirmou que “a
história havia lhe reservado” tal oportunidade, de votar pelo impeachment,
lembrando ao PT que a vítima de 1992 agora era algoz.
A
transição de governo ocupa agora jornalistas e analistas políticos. Porém, o
que deve ser mantido em destaque é que o cenário político atual é essencialmente
provisório. Não apenas porque o processo de impeachment apenas foi iniciado
formalmente, e que há chances reais de que Dilma se defenda com sucesso das
acusações, mas principalmente porque a sustentação política de Michel Temer
será difícil de ser obtida. A crise econômica permanece, e as reformas necessárias
para debelá-la são muito impopulares.
No
campo político, assim como as votações na Câmara e no Senado reproduziram o
desgaste da ex-presidente, também o atual mandatário pode se indispor facilmente
com a opinião pública e com o Parlamento, dificultando a obtenção dos votos
necessários para sua permanência no poder.
Para
salvar os dois anos finais de mandato presidencial, Dilma Rousseff deveria,
portanto, explorar as muitas fragilidades que o governo Temer certamente
apresentará. Para guiar sua oposição durante os 180 dias de afastamento
forçado, basta que Dilma cobre de seu sucessor exatamente aquilo que lhe foi
pedido durante os dois últimos anos. Com segurança, portanto, Dilma já pode dispersar
sua tropa pessoal de agitadores, atualmente ocupada em ações performáticas e
queima de pneus: não passa por aí a reconquista da opinião pública e, como
consequência, a retomada de seu mandato.
A
simplicidade desse esquema de ação, entretanto, é ilusória. Isso porque, para
que um eventual fracasso gerencial de Temer se transforme na volta do PT ao
poder, é preciso que Dilma faça aquilo que ela nunca considerou necessário ou
importante: política. Arrebanhar parlamentares descontentes, negociar posições
conjuntas, dividir poder de decisão, aceitar opiniões, objetivos e interesses
divergentes: essas ações implicam em conciliar e transigir, verbos que, a
julgar pelo passado recente, são incompatíveis com a maneira como Dilma vê o
papel próprio de quem ocupa o comando da nação.
A
questão principal, portanto, é: será que Dilma mudará seu conceito sobre a
política nos 180 dias de afastamento compulsório do poder? Sua volta à
Presidência da República depende mais de suas próprias ações do que de fatores
externos, como a paranoica tese do “golpe de Estado” veiculada pelo PT. Porém,
exatamente por depender da própria Dilma, é que se pode apostar com certo grau
de segurança que o mandato interino de Temer logo se tornará definitivo.
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