por Paulo Diniz
(publicado na edição de 05/06/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A divulgação do rombo nas contas públicas federais
pelo governo de Michel Temer, de cerca de 170 bilhões de reais, joga luz sobre
pontos da gestão de Dilma Rousseff que não faziam parte de sua propaganda
oficial. Nos bastidores do Planalto, sob o disfarce de uma onda aparentemente infinita
de otimismo, acumulavam-se descontrole e dívidas. O pagamento dessa
conta, compromisso do novo governo, representa uma notícia bastante
desagradável a todos os cidadãos, que terão que bancar o reequilíbrio do Estado
à custa de impostos e cortes nos serviços públicos. Nesse sentido, o único
ponto que se pode levantar em defesa do PT é que, dentre suas propostas, nunca
constaram a busca pelo equilíbrio e eficiência na gestão pública.
Mas, como reza o ditado popular: nada está tão ruim
a ponto de não poder piorar um pouco mais. O cenário eleitoral dos EUA,
rompendo uma tendência centenária, tem hoje como um de seus tópicos mais importantes
a criação de barreiras comerciais que dificultem a entrada de produtos
estrangeiros em seu mercado. Tal mudança é surpreendente porque os
norte-americanos, sinceros ou não em seu discurso, sempre pregaram em favor do
livre comércio entre as nações como um fator de desenvolvimento mundial.
Destoando totalmente em relação aos europeus, e muitas vezes também em relação ao
Brasil, os EUA atuam como força liberalizante na economia mundial:
frequentemente vinculam, nos debates internacionais, a abertura de seu mercado
à possibilidade de poder vender livremente seus produtos nos mercados dos
países com os quais negocia. Essa postura já permitiu até que o Brasil cobrasse
tratamento justo na entrada de alguns de seus produtos no mercado
norte-americano, como foi o caso polêmico do suco de laranja. Ao final, a
coerência dos EUA em torno do livre comércio predominou sobre a possibilidade
de ganhos da economia ianque no curto prazo.
A quebra desse paradigma vem sendo aventada por
dois, dos três, personagens do cenário pré-eleitoral: Donald Trump e Bernie
Sanders, extremos opostos do espectro ideológico. Por diferentes razões, ambos
os pré-candidatos acreditam que a abertura econômica foi responsável pela
migração de milhões de postos de trabalho dos EUA para outros países, causando
também queda do nível salarial do trabalhador norte-americano. Há argumentos
econômicos consistentes que colocam em segundo plano tais discursos; porém, dentro
da lógica eleitoral, um argumento é tão válido quanto é aceito pelo público.
Sendo assim, a pré-candidata melhor posicionada nessa disputa, Hillary Clinton,
já dá sinais de que tende a encampar parte dessa lógica protecionista, como
forma de evitar perder votos em novembro.
Para o Brasil, esse prognóstico é péssimo: não
apenas os EUA estão tradicionalmente entre os nossos maiores parceiros
comerciais, como também a crise nacional reduziu o consumo interno, deixando as
empresas brasileiras dependentes de suas vendas para o exterior. Convém
acompanhar com atenção o cenário político dos EUA em 2016...e torcer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário