terça-feira, 14 de junho de 2016

Sinais trocados: uma previsão para outubro de 2016

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 01/05/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Faltando menos de três meses para o início das campanhas eleitorais municipais, é ensurdecedor o silêncio que cerca o assunto. À parte dos prefeitos habilitados a disputar reeleição, até mesmo as especulações mais preliminares sobre a formação de chapas surgem hoje de forma tímida. Essa cautela, não é difícil estimar, tem suas origens na incrível agitação que tomou conta da esfera federal: duas importantes tendências devem surgir daí, para afetar a dinâmica política dos municípios em 2016.
Na atual configuração do federalismo brasileiro, que atribui ao município a responsabilidade por uma extensa lista de serviços públicos, é normal que temas administrativos dominem a agenda eleitoral das cidades. Não foram poucas as ocasiões nas quais os prefeitos foram comparados a síndicos, cuja escolha tem mais relação com o manejo eficiente de problemas locais, do que com a filiação do candidato a movimentos políticos de escala nacional. Alianças partidárias, tradicionalmente, ganham importância como indicadores de uma maior capacidade de um candidato obter apoio junto aos governos federal e estadual na resolução dos problemas locais.
Em 2016, entretanto, o destaque alcançado por partidos e nomes de expressão nacional tem potencial para inverter essa lógica. O desgaste acumulado pelo PT, protagonista nesse processo, pode contaminar a imagem dos seus candidatos a prefeito: essa preocupação já é evidente hoje, pois figuras de destaque do petismo já têm abandonado o partido. Nesse sentido, o governador Fernando Pimentel foi profético ao adotar predominantemente, no material de sua campanha vitoriosa de 2014, padrões de cores que pouco lembravam o vermelho estrelado.
Em Minas Gerais, o PT emergiu das urnas em 2012 como o terceiro partido que mais comandava prefeituras, superado por PSDB e PMDB respectivamente. Na última eleição municipal, foi nas cidades de grande porte que o PT obteve destaque, como por exemplo Uberlândia, Pouso Alegre, Governador Valadares e Ribeirão das Neves; dessa forma, vai ser nesses importantes colégios eleitorais que o partido terá mais dificuldade para preservar seu patrimônio político, tanto da cobiça dos rivais tradicionais, quanto de novos adversários em ascensão, como o PSB.
Outra tendência importante para 2016, também derivada do plano federal, está relacionada com a entrada de grande quantidade de novos candidatos na disputa eleitoral municipal. Como os nomes tradicionais estão desgastados pelo descrédito geral da classe política junto á opinião pública, assim como a forma tradicional através da qual esses costumam cortejar o eleitor, é forte o incentivo para que novas figuras se arrisquem nas urnas. O cerco da Polícia Federal aos grandes esquemas de financiamento ilegal de campanhas também tende a afugentar os patrocinadores de políticos mais experientes, o que torna o jogo eleitoral muito mais equilibrado. É possível prever que, mesmo com poucos recursos em mãos, candidatos novatos terão mais chances do que nunca para chegar ao poder.

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