por Paulo Diniz
(publicado na edição de 01/05/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Faltando
menos de três meses para o início das campanhas eleitorais municipais, é
ensurdecedor o silêncio que cerca o assunto. À parte dos prefeitos habilitados
a disputar reeleição, até mesmo as especulações mais preliminares sobre a
formação de chapas surgem hoje de forma tímida. Essa cautela, não é difícil
estimar, tem suas origens na incrível agitação que tomou conta da esfera
federal: duas importantes tendências devem surgir daí, para afetar a dinâmica
política dos municípios em 2016.
Na
atual configuração do federalismo brasileiro, que atribui ao município a
responsabilidade por uma extensa lista de serviços públicos, é normal que temas
administrativos dominem a agenda eleitoral das cidades. Não foram poucas as
ocasiões nas quais os prefeitos foram comparados a síndicos, cuja escolha tem
mais relação com o manejo eficiente de problemas locais, do que com a filiação
do candidato a movimentos políticos de escala nacional. Alianças partidárias,
tradicionalmente, ganham importância como indicadores de uma maior capacidade
de um candidato obter apoio junto aos governos federal e estadual na resolução
dos problemas locais.
Em
2016, entretanto, o destaque alcançado por partidos e nomes de expressão
nacional tem potencial para inverter essa lógica. O desgaste acumulado pelo PT,
protagonista nesse processo, pode contaminar a imagem dos seus candidatos a
prefeito: essa preocupação já é evidente hoje, pois figuras de destaque do
petismo já têm abandonado o partido. Nesse sentido, o governador Fernando
Pimentel foi profético ao adotar predominantemente, no material de sua campanha
vitoriosa de 2014, padrões de cores que pouco lembravam o vermelho estrelado.
Em
Minas Gerais, o PT emergiu das urnas em 2012 como o terceiro partido que mais
comandava prefeituras, superado por PSDB e PMDB respectivamente. Na última
eleição municipal, foi nas cidades de grande porte que o PT obteve destaque,
como por exemplo Uberlândia, Pouso Alegre, Governador Valadares e Ribeirão das
Neves; dessa forma, vai ser nesses importantes colégios eleitorais que o
partido terá mais dificuldade para preservar seu patrimônio político, tanto da
cobiça dos rivais tradicionais, quanto de novos adversários em ascensão, como o
PSB.
Outra
tendência importante para 2016, também derivada do plano federal, está
relacionada com a entrada de grande quantidade de novos candidatos na disputa
eleitoral municipal. Como os nomes tradicionais estão desgastados pelo
descrédito geral da classe política junto á opinião pública, assim como a forma
tradicional através da qual esses costumam cortejar o eleitor, é forte o
incentivo para que novas figuras se arrisquem nas urnas. O cerco da Polícia
Federal aos grandes esquemas de financiamento ilegal de campanhas também tende
a afugentar os patrocinadores de políticos mais experientes, o que torna o jogo
eleitoral muito mais equilibrado. É possível prever que, mesmo com poucos
recursos em mãos, candidatos novatos terão mais chances do que nunca para
chegar ao poder.
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