quinta-feira, 27 de julho de 2017

Educação nunca é prioridade: a reforma do Ensino Médio

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 25/07/2017 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

Têm passado quase despercebidas algumas propagandas do Ministério da Educação que pontuam a programação com lembretes sobre as mudanças no Ensino Médio. Nem sempre foi assim: cerca de um ano atrás, esse tema gerava polêmica extrema, ocupando o centro do debate político nacional como um símbolo do erro que teria sido a substituição de Dilma Rousseff por Michel Temer na condução do Brasil. Além dos últimos defensores da ex-presidente, muitos outros que não haviam se esforçado em sua defesa surgiram no debate, posteriormente, na esperança de obter ganho político a partir do desgaste de Temer.
A educação, portanto, esteve em pauta por uma conveniência da conjuntura política, pouco importando os aspectos pedagógicos envolvidos na reforma do Ensino Médio. Essa importante mudança no sistema educacional foi tão útil aos agentes políticos quanto tem sido a recente alta do preço dos combustíveis derivado do aumento de impostos: ambas cumprem o papel de motivar críticas e causar desgaste ao oponente no jogo político-partidário. Hoje, a reforma do Ensino Médio avança, independentemente de contribuir ou não para a formação das próximas gerações de estudantes. Não há mais interesse político em manter o debate sobre a educação em destaque, já que agora é possível atacar diretamente o Presidente: delações premiadas, gravações e denúncias criminais têm mais apelo midiático do que a composição da grade curricular do Ensino Médio.
Não é justo, entretanto, culpar apenas os políticos pela falta de atenção dispensada à educação nas discussões públicas; cabe também à população uma boa parcela da responsabilidade pelo ostracismo no qual se encontra esse assunto. Por exemplo, em suas pesquisas anuais sobre as prioridades dos brasileiros e a percepção desses sobre os principais problemas do país, a Confederação Nacional da Indústria tem registrado constantemente a educação como uma das principais preocupações da população, juntamente com a segurança e saúde públicas.
Entretanto, pode-se perceber que a educação não representa de fato um valor importante para a maioria dos brasileiros quando se analisa outros dados da pesquisa da CNI: a qualidade do sistema educacional foi percebida apenas como o 15º pior problema do país em 2015; no mesmo sentido, a melhoria da educação ficou em 7ª posição entre as prioridades apontadas pelo povo para o governo em 2016. Perguntas mais específicas, portanto, desmascaram a suposta preocupação da sociedade brasileira com a educação, em uma dinâmica que não se repete nas demais áreas.
Outro exemplo marcante foi registrado em 2006, quando o senador Cristovam Buarque se candidatou à Presidência da República tendo como discurso quase único um conjunto de propostas para a educação nacional; ao final do primeiro turno, Buarque contou com pouco mais de 2% dos votos válidos. Por mais que uma plataforma monotemática traga mesmo um certo enfado ao eleitor, é preciso destacar o ineditismo de se tornar a educação protagonista do cenário eleitoral, o que deveria em tese ter empolgado uma parcela significativa de estudantes e profissionais do setor, gerando uma votação mais expressiva para Cristovam Buarque.
Sendo a maioria dos políticos e da sociedade envolvidos com a educação de maneira apenas superficial e protocolar, é fácil encontrar as raízes do descalabro da situação atual. Um futuro igualmente triste é o que podemos esperar para a educação no Brasil.