por Paulo Diniz
(publicado na edição de 25/07/2017 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Têm
passado quase despercebidas algumas propagandas do Ministério da Educação que
pontuam a programação com lembretes sobre as mudanças no Ensino Médio. Nem
sempre foi assim: cerca de um ano atrás, esse tema gerava polêmica extrema,
ocupando o centro do debate político nacional como um símbolo do erro que teria
sido a substituição de Dilma Rousseff por Michel Temer na condução do Brasil.
Além dos últimos defensores da ex-presidente, muitos outros que não haviam se
esforçado em sua defesa surgiram no debate, posteriormente, na esperança de
obter ganho político a partir do desgaste de Temer.
A
educação, portanto, esteve em pauta por uma conveniência da conjuntura
política, pouco importando os aspectos pedagógicos envolvidos na reforma do
Ensino Médio. Essa importante mudança no sistema educacional foi tão útil aos
agentes políticos quanto tem sido a recente alta do preço dos combustíveis
derivado do aumento de impostos: ambas cumprem o papel de motivar críticas e
causar desgaste ao oponente no jogo político-partidário. Hoje, a reforma do
Ensino Médio avança, independentemente de contribuir ou não para a formação das
próximas gerações de estudantes. Não há mais interesse político em manter o
debate sobre a educação em destaque, já que agora é possível atacar diretamente
o Presidente: delações premiadas, gravações e denúncias criminais têm mais
apelo midiático do que a composição da grade curricular do Ensino Médio.
Não
é justo, entretanto, culpar apenas os políticos pela falta de atenção
dispensada à educação nas discussões públicas; cabe também à população uma boa
parcela da responsabilidade pelo ostracismo no qual se encontra esse assunto. Por
exemplo, em suas pesquisas anuais sobre as prioridades dos brasileiros e a
percepção desses sobre os principais problemas do país, a Confederação Nacional
da Indústria tem registrado constantemente a educação como uma das principais
preocupações da população, juntamente com a segurança e saúde públicas.
Entretanto,
pode-se perceber que a educação não representa de fato um valor importante para
a maioria dos brasileiros quando se analisa outros dados da pesquisa da CNI: a
qualidade do sistema educacional foi percebida apenas como o 15º pior problema
do país em 2015; no mesmo sentido, a melhoria da educação ficou em 7ª posição
entre as prioridades apontadas pelo povo para o governo em 2016. Perguntas mais
específicas, portanto, desmascaram a suposta preocupação da sociedade
brasileira com a educação, em uma dinâmica que não se repete nas demais áreas.
Outro
exemplo marcante foi registrado em 2006, quando o senador Cristovam Buarque se
candidatou à Presidência da República tendo como discurso quase único um
conjunto de propostas para a educação nacional; ao final do primeiro turno,
Buarque contou com pouco mais de 2% dos votos válidos. Por mais que uma
plataforma monotemática traga mesmo um certo enfado ao eleitor, é preciso
destacar o ineditismo de se tornar a educação protagonista do cenário
eleitoral, o que deveria em tese ter empolgado uma parcela significativa de
estudantes e profissionais do setor, gerando uma votação mais expressiva para
Cristovam Buarque.
Sendo
a maioria dos políticos e da sociedade envolvidos com a educação de maneira
apenas superficial e protocolar, é fácil encontrar as raízes do descalabro da
situação atual. Um futuro igualmente triste é o que podemos esperar para a
educação no Brasil.