por Paulo Diniz
(publicado na edição de 12/06/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Em
menos de um mês de funcionamento, o governo de Michel Temer já perdeu dois de
seus ministros devido à divulgação de gravações que os colocavam em posição de
suspeita de corrupção e obstrução da justiça. Para boa parte da crônica
política, isso é sinal de que o governo interino enfrenta sua primeira crise.
Para os dilmistas remanescentes, subitamente partidários do vazamento pela
imprensa de trechos de investigações e processos judiciais, eis a prova de que
o novo governo é tão corrupto quanto o anterior; um argumento, aliás, que aos
olhos do público nunca contribuiu para engrandecer os líderes petistas e suas
gestões.
Provavelmente,
cada uma dessas perspectivas guarda certo grau de validade. Porém, o ponto mais
importante vem sendo deixado de lado: o fato de que tem ficado nítida a
habilidade política dos integrantes do novo governo. Por exemplo, a rapidez com
que os ministros Romero Jucá e Fabiano da Silveira foram afastados de seus
cargos foi marcante, podendo ser contada em uma questão de horas. O contraste
em relação às gestões petistas é radical: nessas, sob o argumento de que
suspeitas não necessariamente levam a condenações, os protagonistas de
escândalos eram mantidos indefinidamente em seus cargos, a serviço de Lula e
Dilma. Dessa forma, os efeitos do escândalo da vez se prolongavam no tempo,
contribuindo inclusive para reforçar a percepção popular de que as
administrações petistas foram incrivelmente mais corruptas do que todas as
demais. No caso de Temer, a demissão do protagonista do escândalo tem permitido
que a sucessão de fatos do noticiário se encarregue de diluir os efeitos
políticos de cada crise, enviando Jucá e Silveira ao passado. Essa dinâmica
tende a se reforçar porque a pauta do combate à crise econômica costuma dominar
as atenções.
Outro
ponto importante, que passou despercebido para muitos: indicado por Renan Calheiros
para o governo, Silveira foi visto por muitos como um nome “blindado”, cuja
demissão poderia gerar constrangimento com o presidente do Senado e, com isso, a
perda de importante apoio político. Tal impressão durou pouco, pois rapidamente
Renan Calheiros divulgou nota afirmando que não havia feito qualquer indicação
para o ministério de Temer: assim, deu sinal verde tanto para a exoneração do
ministro suspeito, quanto para a contenção da crise. O mais importante a ser
destacado, nessa situação, é o entrosamento interno do PMDB, fato raro, mas que
torna o partido extremamente poderoso.
O
contraste com o governo anterior é gritante: Temer é dotado de habilidade política
considerável e a tem colocado em prática para fortalecer seu governo. Some-se a
isso a coesão do PMDB e o poder para definir os gastos públicos federais, e é
possível prever que o presidente em exercício tem “a faca e o queijo na mão”
para se garantir no cargo até dezembro de 2018. A aprovação pelo Congresso
Nacional de matérias complexas como a nova meta fiscal, deficitária em R$ 170
bilhões, é sinal prévio da solidez da nova plataforma de poder.
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