por Paulo Diniz
(publicado na edição de 25/02/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais - e na edição de 26/02/2014 da Tribuna de Minas - Juiz de Fora, Minas Gerais)
A
discussão em torno da economia brasileira tem se intensificado nos últimos
meses, à medida que indicadores negativos vem se sucedendo: balança comercial
magra, apesar dos artifícios contábeis utilizados para melhorar os resultados,
superávit das contas públicas diminuto e, o principal, inflação em alta.
Enquanto a oposição se dedica a alardear tais números, o Governo Federal acusa
o pessimismo de seus adversários, e esse raso bate-boca resume o debate.
Entretanto,
por trás das tecnicalidades da economia, reside um fator político capaz de
definir as eleições de outubro. A sensibilidade do eleitor brasileiro ao clima
econômico é um fator que, descobriu-se recentemente, tem um peso muito maior do
que se esperava. Por exemplo, a sisudez e a falta de carisma da presidente
Dilma Rousseff não a impediram de superar todos os recordes de
popularidade obtidos por Lula em seus anos de governo, o que se explica pelo
excelente momento vivido pela economia brasileira em 2011 e 2012. O mesmo fator
explicaria as vitórias de Fernando Henrique Cardoso, em primeiro turno, nas
eleições de 1994 e 1998, auge do Plano Real. A idéia de que Lula tenha se
tornado um grande ídolo das massas populares, capaz de definir sozinho os rumos
de uma eleição, não condiz com a realidade, sendo apenas parte da mitologia
romântica que os petistas nutrem com carinho.
As
manifestações de junho de 2013 foram um exemplo de como as lideranças petistas
estão distantes de entender o que há com a população: nos termos de um líder do
partido, o governo esperava protestos com "carro de som, liderança
formalizada e pauta de reivindicações". Mais recentemente, o Governo
Federal errou ao atribuir caráter político aos distúrbios adolescentes em
shopping centers, convocando supostas "lideranças" para as
negociações; ao mesmo tempo, criava um poderoso aparato militar para tomar as
ruas do país durante a Copa do Mundo.
A
candidata Dilma Rousseff vai manter sua condição de favorita na medida que se
aperceber do quão decisivos são os fatores de ordem econômica para o resultado
das urnas: para o brasileiro médio, a mítica lulista desaparece quando se sente
no bolso o aumento dos preços do arroz e do pão. Portanto, a imagem das massas
populares, gratas e devotas a um líder, existe como fator político de peso apenas
nas repúblicas populistas hispano-americanas, e nos sonhos de alguns setores
petistas. Quanto antes a direção do partido aceitar esse fato, melhor para
Dilma.
Analogamente,
a oposição também precisa saber trabalhar a variável econômica, cuja
importância já foi percebida. Concentrar o foco das atenções sobre os aspectos
que a população já sente, em matéria econômica, deixando de lado o discurso
excessivamente técnico e focado por demais em cenários futuros. Também é
essencial oferecer propostas, em grande quantidade e variedade, pois o discurso
centrado principalmente na crítica aos governos petistas pouco valeu ao PSDB no
passado recente. Para os dilemas que sente, a população demanda respostas.