sexta-feira, 17 de maio de 2013

A esfinge pernambucana

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 14/05/2013 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais - e na edição de 30/05/2013 da Tribuna de Minas - Juiz de Fora, Minas Gerais)

Durante os últimos meses, o governador pernambucano Eduardo Campos tem sido visto como figura-chave das articulações pré-eleitorais que agitam a política nacional. Surgindo no primeiro plano como “vice perfeito” da oposição e “aliado indispensável” do governo, Campos abandonou a posição de cobiçável para defender o papel de protagonista de uma chapa própria, liderada pelo partido que preside, o PSB. Apesar de despertar, com seus movimentos no tabuleiro da política, esperanças em várias correntes políticas e lideranças regionais, é preciso tratar com cautela tais arroubos de Campos.
A favor de Eduardo Campos conta um dos acontecimentos mais notáveis do contexto partidário nacional recente: o crescimento vertiginoso do PSB, que hoje é o partido que comanda o maior número de capitais do Brasil, e o segundo que mais elegeu governadores em 2010. Porém, tal situação guarda peculiaridades: o crescimento do partido foi concentrado no Nordeste, o que se percebe pelo fato de que quatro, dos seis governadores eleitos pelo partido, se encontram nessa região. Dessa maneira, a própria distribuição do poder de Eduardo Campos exerce certa determinação sobre sua trajetória futura: como liderança regional, seria um tanto difícil buscar um projeto nacional, como a candidatura própria à Presidência. Ao mesmo tempo, a força de Campos no Nordeste o torna capaz de ameaçar o PT justamente onde esse tem conquistado suas mais amplas maiorias nas últimas eleições nacionais. Assim, as condições estruturais são amplamente favoráveis para que o governador pernambucano ocupe lugar decisivo na estratégia da oposição para reconquistar o Planalto, uma posição mais interessante do que o papel de “franco-atirador” na campanha de 2014.
Outra dimensão essencial a ser considerada é a da montagem do futuro governo. Como já ocorre, o PSB se tornou grande demais para ocupar posições periféricas na estrutura do Governo Federal, de forma que foram várias as disputas por espaços institucionais durante o governo de Dilma Rousseff. Não há solução em vista para tal problema, principalmente em um governo que se aproxima da incrível marca de 40 ministérios. Junto à oposição, entretanto, o PSB automaticamente ocuparia o lugar de segunda força, tanto pela importância crucial de seu apoio no contexto eleitoral, quanto pelo fato de que nenhum dos atuais aliados do PSDB apresenta peso político comparável ao do partido liderado por Eduardo Campos. Nesse sentido, o governador pernambucano tem poucos incentivos para permanecer na coalizão petista, ou mesmo para arriscar uma aventura solitária.
Certamente, a política não é uma ciência exata. Porém, os personagens que a povoam se movimentam de acordo com uma lógica relativamente simples: buscam melhorar suas posições atuais, evitando riscos desnecessários e o desperdício de recursos e esforços. Pensando assim, fica claro que Eduardo Campos não tem mistérios a esconder no campo da política: será mesmo candidato a vice-presidente na chapa de oposição em 2014.