por Paulo Diniz
(publicado na edição de 25/01/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Profundo
conhecedor do panorama político brasileiro, o ex-governador mineiro Magalhães
Pinto cunhou a frase na qual compara a política às nuvens: a cada vez que se
olha, vê-se tudo diferente. Essa lógica nos ensina que prognósticos de longo
prazo, no Brasil, têm pouca validade. Assim, analisar os eventos que virão em
2015 só tem valor por indicar as principais articulações que deverão acontecer
nesse ano.
Um
evento que não é novidade, mas que deve gerar estresse político, é a
formalização da Rede Sustentabilidade, o partido liderado por Marina Silva que
não conseguiu cumprir as exigências legais para disputar as eleições de 2014.
Além do suspense quanto à efetivação do partido até outubro, prazo legal para
participar das eleições municipais de 2016, há também a questão das migrações
partidárias, que são facilitadas pela criação de nova agremiação política. A
senadora petista Marta Suplicy, a julgar pela forma inédita e agressiva com a
qual passou a criticar seu partido junto à imprensa, oferece uma prévia do quão
turbulentas podem se tornar essas articulações pessoais. Afinal, não basta
alterar o registro partidário, é preciso justificar aos eleitores a moralidade
da troca, assim como à Justiça Eleitoral a incompatibilidade ideológica com o
partido que se deixa; assim fazendo, Marta evita o risco de ficar sem mandato
eletivo no futuro próximo. Como ela, muitos outros podem fazer esse ruidoso
tipo de troca.
Também
facilmente previsíveis para o ano que começa são os maus bocados do governo de
Dilma Rousseff com o Parlamento brasileiro. Seguindo-se à muito comentada
mudança na forma de tratamento do PT para com o PMDB, que passou a receber
postos ministeriais de menor importância, deve-se seguir uma reação legislativa
por parte do partido que detém a maior bancada do Senado e a segunda maior da
Câmara dos Deputados. A eleição para a Presidência da Câmara, marcada para dois
de fevereiro, deve dar corpo a esse burburinho de insatisfação, e caso Dilma
não opte pelo caminho da conciliação, teremos um 2015 de muitos confrontos no
Parlamento nacional. Com um flanco desguarnecido pela torrente de escândalos
que brota da Petrobras, a presidente tem muito mais a perder do que a ganhar se
decidir medir forças com o PMDB. De toda forma, todos os envolvidos irão
preferir definir essas questões ainda em 2015, já que não é ano eleitoral.
Desse
conturbado contexto, composto também pelas crises da economia e do setor
energético, o ex-presidente Lula deve se manter o mais distante possível:
preservará sua imagem pessoal visando 2018, voltando à cena quando reaparecerem
as boas notícias no cotidiano dos brasileiros.
O
mais importante de 2015, entretanto, não depende dos políticos, mas sim de cada
um dos milhões de brasileiros que se envolveram na disputa eleitoral do ano
passado como há muito não se via acontecer: será preciso fazer uso de todos os
canais para marcar presença junto aos eleitos, indicando que democracia é muito
mais do que o simples registro do voto na urna.