por Paulo Diniz
(publicado na edição de 15/01/2017 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A
renovação do PT foi mais uma expectativa que se frustrou em 2016. Muito
mencionada por analistas políticos, a reforma petista é tida como indispensável
para que o partido não entre em colapso no futuro próximo. Convocado para abril,
o congresso nacional do PT não deve, entretanto, produzir qualquer mudança
significativa, por uma série de motivos distintos.
Outrora
um partido cheio de dissenções, há alguns anos no PT predomina o consenso: se
ruidoso ou plácido não importa, o fato é que têm prevalecido os planos da
cúpula. Por treze anos, o imperativo do comando da máquina federal foi argumento
definitivo para consolidar esse consenso. Hoje, mesmo afastadas do poder
federal, as correntes internas do PT ainda não se arriscam a questionar
seriamente a ordem interna do partido: é fácil imaginar que, tendo em vista as
eleições de 2018, tenham esperanças de voltar ao Planalto a bordo da chapa de
Lula.
Entretanto,
as posições do PT e de Lula são irreconciliáveis, e isso se dá pela relação que
cada um tem com o tempo: enquanto Lula busca referências no passado para se
mostrar ao eleitor, seu partido precisa apontar para o futuro, para a superação
de uma imagem institucional tremendamente desgastada junto à opinião pública
nacional. Dificilmente Lula deve mudar de posição, pois, ao que tudo indica, o
melhor recurso à sua disposição parece ser a memória da bonança econômica que
marcou seus anos de governo. Essa contradição, entre os interesses pessoais de
Lula e as necessidades institucionais de seu partido, aparece como o primeiro
grande obstáculo a qualquer reforma de vulto no PT. A maneira como o
ex-presidente tem, nos últimos anos, moldado o partido em torno de si, dá indicação
bem clara de qual deverá ser o rumo adotado.
O
ponto principal, entretanto, que deve impedir maiores mudanças no PT está
relacionado com a própria maneira como suas lideranças costumam fazer política.
Historicamente, os petistas têm se mostrado avessos à prática marxista da
autocrítica: dificilmente mudam de rota, quase nunca admitem erros e, via de
regra, atribuem seus fracassos a alguma conspiração reacionária e sórdida. Essa
insistência, com o tempo, torna as eventuais mudanças cada vez mais
desgastantes na política, pois essas evidenciariam os custos impostos ao povo
pelo dogmatismo petista.
No
mesmo sentido, assumir erros implicaria em dar razão àqueles que criticaram o
PT no passado: não apenas pessoas, mas partidos inteiros que nasceram de
dissidências petistas poderiam fazer uso eleitoral desse reconhecimento tardio
de seus argumentos. Destaque nesse grupo a eterna presidenciável Marina Silva,
e ficam claras as dimensões desse obstáculo à reforma petista.
Tradicionalmente,
o PT cresceu afirmando seu ineditismo e exclusividade em relação à virtude na
política. Tal discurso fez com que o partido queimasse todas as pontes pelas
quais passou. Dessa forma, voltar às origens para fazer correções ou buscar
novos aliados é hoje um caminho tão difícil, que certamente não será trilhado.