por Paulo Diniz
(publicado na edição de 03/01/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
A
temporada de retrospectivas segue a pleno vapor, e a crônica política de 2015 tem
dado trabalho. Por mais que o ano termine como começou, com o mandato de Dilma
Rousseff sob questionamento intenso, nesses doze meses de intervalo os fatos
ocorridos foram surpreendentes. O processo de impeachment da presidente, cujo
desenrolar foi suspenso pelo recesso parlamentar, serve como exemplo do quão
incomum foi 2015, mas principalmente, ilustra o protagonismo do Legislativo no
ano que se encerrou.
A
odisseia de Eduardo Cunha, da vitória para o comando da Câmara, passando pela
aceitação do pedido de impeachment de Dilma Rousseff e culminando com seu
próprio envolvimento com o escândalo da Petrobrás, ilustra como o parlamento
brasileiro foi o centro das atenções políticas de 2015. Embora a maioria da
população acredite ter sido esse um momento histórico de descrédito do
Legislativo, interpretar esse contexto demanda distanciamento: antes lugar de
conchavos de bastidores, no qual as decisões eram tomadas na obscuridade e os
debates ocorriam nos desvãos dos gabinetes, agora a Câmara é palco de disputas
abertas de interesses, cumprindo com isso parte de sua função principal.
É
nesse sentido que se pode ver o ano de 2015 como dotado de uma lógica geral: a
agitação do Congresso Nacional foi consequência direta da explosão de protestos
populares que marcou o ano de 2013. Nessa lógica, se a população brasileira
despertou abruptamente para a vida coletiva e para o que ocorre com o Estado em
2013, o que assistimos em 2015 foi o encontro entre essa gigantesca força
popular e os canais institucionais da política. As eleições de 2014, agora
parece mais claro, aconteceram cedo demais para que fosse absorvido e traduzido
formalmente esse novo direcionamento da sociedade brasileira: por isso, não
tivemos níveis radicais de renovação no Legislativo Federal, ou mesmo qualquer
grande surpresa nas votações para o Executivo. Assim, em poucos momentos como
em 2015, tantos olhos estiveram ligados ao que se passava no Congresso
Nacional, tantos nomes de parlamentares estiveram tão presentes nas conversas
populares, e tantas reuniões de comissões legislativas foram tão vivamente
acompanhadas; enfim, a ideia da representação legislativa avançou muito na compreensão
do povo brasileiro, e o Parlamento passou a ser visto como uma continuação da
vida em sociedade.
Obviamente,
a descoberta dessa relação não se deu de maneira elogiosa, mas o repúdio dos
eleitores a seus representantes já é sinal claro de que a alienação do passado
se foi. Melhor ainda promete ser o ano de 2016, também eleitoral, e por isso
ainda mais capaz de transpor as muitas faces da sociedade brasileira para os
meandros do sistema político nacional. Para os extremistas da esquerda à
direita, vale recordar que em uma democracia cada vez mais representativa, como
a brasileira, os parlamentares eleitos tendem a refletir as múltiplas faces de
nossa sociedade; aceitar essa diversidade é base essencial para um futuro
melhor.