(publicado na edição de 31/01/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
ano de 2016 encerra um ciclo na política de Minas e do Brasil, que teve início
com o pleito municipal de 2008: esse se caracterizou pela eleição de candidatos
de perfil puramente técnico a cargos de destaque no Executivo, apoiados
ostensivamente por figuras políticas de grande sucesso. Foram apelidados por
seus adversários como “postes”, em alusão a uma suposta falta de liberdade em
relação a seus apoiadores. Eleito Márcio Lacerda como prefeito de Belo
Horizonte em 2008, a campanha de 2010 trouxe a reedição dessa fórmula: Antônio
Anastasia e Dilma Rousseff chegaram à vitória, nos governos de Minas e do
Brasil, contando muito mais com os votos de Aécio e Lula, respectivamente, do
que graças a seus próprios carismas pessoais.
Cada
um já testado em mais uma eleição, Lacerda, Anastasia e Dilma parecem ter sido
mesmo os únicos representantes dessa dinâmica política, uma vez que não
surgiram novos nomes com perfil semelhante nos últimos anos. Os palanques,
portanto, voltaram a ser monopolizados por seus protagonistas tradicionais, os
políticos profissionais. Apesar dessa semelhança, cada um dos três vive hoje
situações bem distintas em suas carreiras, o que diz muito sobre o que lhes
reserva o futuro.
Antônio
Anastasia, senador com a maior parte do mandato pela frente, tem negado com
frequência rumores sobre seu interesse em se candidatar a novos postos no
Executivo. Adota uma estratégia cautelosa, provavelmente por ser um dos poucos
que desfrutam de uma posição tão confortável, no ambiente político agitado do
Brasil. Faz uso do recurso do qual mais dispõe, o tempo, enquanto espera o
desenrolar da trama atual.
Dilma
Rousseff, ainda presidente, registra seguidos recordes em seu segundo mandato:
menor índice de aprovação popular das últimas três décadas, maior nível de
inflação desde o início do Plano Real, maior retração da economia nos últimos
25 anos, dentre outras marcas infelizes que cobram um preço pesado sobre a
viabilidade política de seu governo. Uma das explicações para tal situação é
que a presidente não cuidou pessoalmente de sua articulação política, delegando
a tarefa vital a terceiros. Desprezando a prática cotidiana da política, Dilma
se aferrou à condição de gestora, construindo o isolamento que hoje enfrenta; assim,
acabou por dar razão àqueles que a chamavam como “poste”, alusão à sua
inabilidade política.
Márcio
Lacerda, nesse grupo, chama a atenção: sem mudar seu estilo pessoal, o prefeito
da capital mineira aprendeu a articular, provavelmente consequência da relação
conturbada com os vereadores no passado. Hoje tecendo uma rede de apoios nas
principais cidades do interior mineiro, Lacerda se credencia cada vez mais como
um dos nomes mais fortes na disputa pelo Palácio da Liberdade em 2018; agora,
sem a necessidade de um fiador de maior destaque em sua campanha. Bem avaliado
pela maioria dos belo-horizontinos, o prefeito hoje está no comando de seu
próprio processo de sucessão, algo que, oito anos atrás, poucos esperariam que
acontecesse.
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