por Paulo Diniz
(publicado na edição de 21/02/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Celebridades
do mundo artístico costumam ter suas vidas pessoais ativamente cobertas pela
mídia. Brigas e divórcios despertam especial interesse no público, que se
deleita em acompanhar as frustrações alheias. Um processo semelhante marca a política
brasileira, envolvendo o ex-presidente Lula e a atual mandatária Dilma
Rousseff: dada a importância política que a relação entre eles adquiriu, a
curiosidade em torno de qualquer abalo nesse relacionamento beira a histeria.
Para contornar a torrente de boatos sobre o assunto, e assim extrair valor
político desse cenário, é essencial analisar quais interesses poderia haver,
para qualquer parte, em encerrar essa feliz união política.
Ano
passado, quando Dilma atravessava seus piores momentos, se multiplicaram
rumores de que Lula hesitava em se arriscar na defesa de sua sucessora. Adepto
de estilo político personalista, Lula sabe que a imagem é seu maior patrimônio,
protegendo-a com muito zelo. A crise econômica, que aniquilou a popularidade de
Dilma, poderia poupar Lula se esse não fosse associado ao cotidiano da gestão
do país. Esse raciocínio, feito por vários analistas, ganhou credibilidade à
medida que o ex-presidente criticava os erros cometidos pela equipe econômica.
O
pedido de impeachment contra Dilma pode ter funcionado como um divisor de águas,
forçando sobre Lula duas opções extremas: voltar aos braços de Dilma ou, calando-se,
endossar a visão daqueles que a queriam destituída. Preferindo a reaproximação,
Lula fez gestões pelo apaziguamento do PMDB, sem muito sucesso, e indicou seu
aliado Jacques Wagner para o comando da Casa Civil de Dilma. Não foi,
definitivamente, a salvação do governo, mas contribuiu para que 2015 se encerrasse
com Dilma ainda no cargo. Independentemente das cogitações que habitaram as
profundezas da mente de Lula, a conjuntura que lhe permitia ganhos a partir do
rompimento com Dilma se esgotou.
No
início de 2016, quanto mais se aperta o cerco de investigações ao ex-presidente
Lula, mais esse se torna uma figura cuja parceria política se mostra
potencialmente arriscada. Diante da exposição das suspeitas sobre o
ex-presidente, ligadas a questões de fácil compreensão pela população, pouco
importa a comprovação de qualquer crime: o estrago à imagem de Lula já foi
feito. Agora, enquanto o público concentra sua atenção sobre Lula, configura-se
o momento ideal para Dilma se distanciar do caso, obtendo o sossego muito
esperado para trabalhar a gestão de seu governo.
Desconsiderando
os boatos que já enxergam como fria a relação entre Dilma e Lula, o fato é que
a conjuntura atual beneficiaria à presidente em caso de rompimento. Além de
ganhar sobrevida para sua popularidade, Dilma reduziria a influência do PT em
seu governo, o que lhe daria a possibilidade de construir uma aliança mais
ampla de sustentação política. Porém, considerando o histórico de Dilma em
termos de articulação e estratégia, o mais provável é que ela mantenha o
casamento de aparências, frustrando os boateiros da vez.
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