por Paulo Diniz
(publicado na edição de 15/11/2015 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Chama
a atenção, nos últimos 12 meses, a ocorrência de episódios nos quais figuras
eminentes do PT são hostilizadas em ambientes públicos. O caso mais recente
envolveu o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, em um conhecido
bar de Belo Horizonte. Pacífico como poucos e nunca relacionado em qualquer dos
escândalos de corrupção de seu partido, Patrus pagou pelo extremo grau de
desgaste que atinge o PT, o que configura mesmo uma onda de ódio contra o
partido.
Na
recente história democrática brasileira, governos impopulares não são incomuns:
José Sarney, por exemplo, amargou baixíssimos níveis de aprovação enquanto a
inflação anual se media com quatro dígitos. Por uma crise econômica muito mais
modesta, entretanto, Dilma Rousseff se tornou unanimidade na rejeição popular.
Não se pode imaginar, assim, que a corrente antipetista tenha origem apenas na
frustração nacional devido aos índices gerais de emprego e consumo.
Ao
mesmo tempo, também não faz sentido crer na interpretação divulgada por lideranças
petistas, segundo as quais as elites nacionais são responsáveis pelo atual
humor político. Nesse complô imaginário, essas elites teriam orquestrado
praticamente uma rebelião popular por puro despeito, já que a população de
baixa renda passou a frequentar aeroportos e universidades, espaços
anteriormente exclusivos dos mais abastados. Essa ideia não apenas torna vítima
indefesa um dos partidos mais ricos e poderosos que o país já viu nas últimas décadas,
como também superestima o poder dessas supostas elites. Trata-se, afinal, de
uma simplória tentativa de se gerar apoio político a partir do contexto
desfavorável atual: algo como um apostador que, diante do azar no jogo, decide
dobrar suas apostas.
Assim,
é na estratégia política recente do PT que se deve buscar as raízes do atual
ódio antipetista. O conceito de luta de classes, tido como inevitável por Karl
Marx no século XIX, foi reduzido pelo PT a um refrão de torcida de futebol:
usado para reunir apoio a Dilma enquanto essa perdia popularidade junto à classe
média. A lógica era a de garantir o apoio da população de baixa renda,
fomentando nessa uma aguda rivalidade em relação à classe média; nesse embate,
lideranças como Lula se colocaram como defensores heroicos dos despossuídos. O
ódio, afinal, foi solto ao ar em grandes proporções, na expectativa de que essa
fúria poderia ser domesticada e controlada a favor do PT.
Com
ânimos acirrados, bastou que a crise afetasse o bolso dos mais carentes para
que, até esses, desertassem em massa do campo governista; a exaltação dos
ânimos se voltou contra que a incentivou. A estratégia petista partiu, também,
de um risco potencializado pelo alto grau de exposição que o partido obteve na
última década: o PT se tornou vítima de sua própria onipresença quando as
coisas começaram a dar errado no Brasil. Patrus Ananias, manso bocaiuvense,
sentiu injustamente o peso de todo esse contexto em seu momento de lazer: uma
vez no ar, o ódio não escolhe suas vítimas.