segunda-feira, 4 de julho de 2016

Brexit Brizolista

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 03/07/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

O plebiscito que decretou a saída do Reino Unido da União Europeia deve gerar impactos por muitos anos. As consequências esperadas dessa separação, popularmente chamada de Brexit, são desastrosas para a economia britânica. A pergunta que se destaca, portanto, se relaciona com os motivos que levaram a população a fazer essa escolha. Analistas têm destacado a rejeição britânica à quota de refugiados que, de acordo com as negociações em curso na U.E., cada país membro terá que receber. Também é mencionada a irritação britânica em relação aos regulamentos obrigatórios vindos de Bruxelas, sempre percebidos como burocracia desnecessária e excessiva.
Sem dúvida, todos esses fatores desempenharam papel importante no resultado do plebiscito de 23 de junho. Porém, um olhar mais preciso é capaz de perceber que a dinâmica decisiva foi outra: a utilização da campanha eleitoral como palanque para que figuras políticas locais se destacassem, e assim, abreviassem o caminho até o poder. O ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, se destaca nesse processo, não só por ter sido um dos líderes mais veementes em favor do Brexit, como também por ser até então uma figura secundária dentro do Partido Conservador.
Reeleito com folga em maio do ano passado, o primeiro-ministro David Cameron não só tinha diante de si a perspectiva de um tranquilo mandato a ser cumprido, como também era indubitavelmente o líder inconteste do Partido Conservador; vale lembrar que, sob o regime parlamentarista britânico, o eleitor escolhe o partido no poder, sendo o cargo de primeiro-ministro exercido pelo líder da agremiação vencedora, também um deputado eleito. Como governante sensato, Cameron defendia a permanência do Reino unido na U.E., contando com o apoio maciço do Partido Trabalhista, que normalmente faz oposição a seu governo.
A jogada de Boris Johnson, nesse sentido, foi um sucesso: não apenas o estridente ex-prefeito londrino pôde fazer uso dos palanques do plebiscito para expor sua imagem à mídia intensivamente, como também desafiou o poder de Cameron dentro do partido do qual ambos fazem parte. Derrotado no plebiscito, Cameron anunciou sua renúncia como primeiro-ministro, dando início ao processo interno de escolha do novo líder do Partido Conservador, que exercerá o cargo de primeiro-ministro do país a partir de setembro. Johnson é, logicamente, o favorito.
As semelhanças com o plebiscito realizado no Brasil em 1993 são grandes: nesse ano, Leonel Brizola assumiu a frente do movimento de manutenção do presidencialismo como forma de governo, se opondo à implantação do parlamentarismo. De olho nas eleições do ano seguinte, Brizola ganhou os holofotes na esperança de construir uma vantagem no pleito de 1994: seu apelo popular foi crucial para a causa presidencialista, mas teve efeito nulo nas urnas do ano seguinte. Ficou para o Brasil a herança de um sistema de governo que precisa chegar à beira do colapso, para realizar uma troca de governo que sob o parlamentarismo é algo cotidiano e estável.