por Paulo Diniz
(publicado na edição de 19/06/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Nos
momentos de tensão política, já virou lugar comum questionar o paradeiro de
Marina Silva. Assim, não causa surpresa o sumiço quase completo da ex-senadora
durante a crise política pela qual passa o Brasil. Poucas foram as opiniões
dadas, e menor ainda foi seu comprometimento com qualquer facção política.
Sobre a economia o silêncio foi absoluto. O que vale a pena perguntar, agora, é
sobre a viabilidade política dessa estratégia de desaparecimento quase
completo, que claramente está voltada para a disputa presidencial.
É
fato que há bastante tempo o eleitorado está carente de novos nomes e
propostas. Marina Silva tem buscado atender a essa demanda desde 2010, quando
obteve um incrível terceiro lugar na votação geral. Em 2014, apesar dos
percalços, Marina teve a confirmação da avidez do público por mudanças: liderou
as pesquisas de intenção de voto por muito tempo, sucumbindo apenas ao final,
diante do jogo baixo dos dois principais partidos tradicionais. Está provado,
portanto, que Marina semeia em solo fértil, e que tem plena consciência disso.
O
que muitos veem como sinal de alheamento de Marina Silva em relação à
realidade, tem se mostrado a longo prazo como uma estratégia acertada na
disputa pelo eleitorado brasileiro. Por exemplo, a inércia da candidata acreana
ao sofrer uma brutal campanha difamatória por parte de Dilma Rousseff em 2014
pode ter lhe custado a vitória; porém, o infortúnio público e político da
presidente afastada hoje tem o efeito de destacar Marina como a vencedora
natural desse debate. No atual contexto, todo o discurso feito contra Marina
durante a eleição mudou de significado: por exemplo, a desvinculação da
ex-senadora de uma grande coalizão partidária, argumento atirado contra ela no
passado, hoje aparece como uma vantagem para a imagem de Marina; afinal, todos
os grandes partidos estão profundamente desgastados junto à população.
É
claro que não faz sentido pensar que a ex-senadora sacrificou suas chances
reais em 2014 em favor de uma vitória futura, mas é certo que sua postura de
evitar envolvimento com as tramas e personagens da política tradicional
fortalece sua imagem de “diferente” com o passar do tempo.
É
nítida a percepção de que Marina Silva não tem pressa para chegar à Presidência
da República: a persistência de Lula é um exemplo do qual ela, inclusive,
participou. Sendo assim, os longos sumiços de Marina Silva nos períodos não
eleitorais têm o sentido de preservar a aura de novidade em torno de seu nome,
principal trunfo a seu favor no cenário atual de desgaste dos políticos e
partidos tradicionais.
Os
riscos que Marina corre ao adotar tal estratégia não são muitos. À parte de um
improvável esquecimento de seu nome pelo eleitorado, ela poderia ser superada
na preferência popular por um inesperado candidato novato, que atrairia ainda
mais as esperanças populares do que a ex-senadora. Entretanto, agora que seu
nome surge associado a doações irregulares de campanha, resta saber se esse
plano de ação vai se sustentar.
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