por Paulo Diniz
(publicado na edição de 19/10/2014 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
As
discussões que têm marcado a disputa presidencial, por mais que apresentem
muitos pontos em comum com pleitos anteriores, demonstram uma característica
peculiar: a presença de tópicos relacionados à forma como o Brasil se posiciona
no mundo. Em democracias como os EUA e a Alemanha, por exemplo, as linhas de política
externa dos candidatos ao comando do país são tão vivamente discutidas pelos
eleitores quanto questões econômicas e programas sociais. Mesmo tímida, a
presença de temas de política externa pôde ser notada durante o primeiro turno
de forma constante, o que demanda um olhar mais atento.
O
protagonismo coube aos candidatos de oposição: em relação à segurança pública,
o atual governo foi acusado de privilegiar a afinidade ideológica, adotando uma
postura condescendente em relação a países vizinhos que se destacam na produção
de drogas, com destaque para a Bolívia. Também sob o argumento de privilegiar a
lógica partidária, os governos do PT sofreram desgaste devido aos investimentos
em infraestrutura realizados em Cuba e na Venezuela, fato que mesmo gerando
demanda para as grandes empreiteiras brasileiras, tem sido atacado pela
oposição devido à demanda por obras desse mesmo tipo em solo nacional. Esses
tópicos representam um interesse crescente da esfera política brasileira pelo
que acontece no exterior; independente da profundidade da discussão, merece
destaque a existência do debate em si.
A
ausência, entretanto, foi a missão militar brasileira no exterior: mantendo
mais de 1.400 soldados no Haiti desde 2004, o Brasil comanda a operação militar
das Nações Unidas nesse país, tendo sofrido 22 baixas e gasto R$ 1,3 bilhão.
Como consequência, o Brasil se tornou ponto final de um circuito de imigração
que trouxe quase 18 mil refugiados haitianos ao país. Mesmo considerando as
proporções desse quadro, não foi possível perceber que os candidatos a
presidente tenham abordado o tema. Há potencial eleitoral a ser explorado: em
1999, quando o Brasil foi instado a colaborar com o processo de independência
da ex-colônia portuguesa do Timor Leste, lideranças parlamentares de destaque
converteram o custo estimado da ação militar brasileira em termos de casas
populares ou postos de saúde que poderiam ser construídos. Diante de tal
possibilidade de desgaste, o então presidente optou por enviar apenas algumas
dezenas de policiais, contribuindo com a organização do trânsito na nova nação
asiática.
Como
os demais campos da ação do Estado nas políticas públicas, a política externa é
capaz de gerar ônus e bônus à população brasileira. Porém, por um desenvolvimento
histórico peculiar, que envolve questões de sigilo e segurança, esse campo da
ação governamental evoluiu de forma afastada dos olhos da população. É preciso
que a dinâmica eleitoral, a partir da relação direta que estabelece entre o
poder instituído e os cidadãos, modifique essa trajetória definitivamente,
trazendo mais transparência quanto aos meios utilizados e os fins buscados pelo
Brasil no mundo.
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