por Paulo Diniz
(publicado na edição de 18/09/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
processo de impeachment de Dilma Rousseff avançou sobre o calendário eleitoral,
tirando muito do espaço que as campanhas municipais deveriam ocupar no contexto
político brasileiro. Há muito tempo a política nacional não estava tão presente
no dia a dia do cidadão médio, incitando discussões que em muito lembram as
rivalidades futebolísticas. Nesse contexto, é lógico supor que os temas
nacionais contaminem as disputas eleitorais municipais.
Sobre
o PT, paira uma ameaça quase palpável. Por enquanto, essa força se materializa
pelas medidas preventivas adotadas por candidatos petistas pelo Brasil afora: a
tradicional estrela vermelha, ícone do partido desde os seus primórdios,
praticamente desapareceu do material usado para divulgação em campanhas. O
mesmo pode ser dito da própria imagem do ex-presidente Lula, que costumava ser
inserida digitalmente nas fotos de panfletos de candidatos petistas para
simular intimidade desses com o poder. Cores neutras e plataformas
personalistas: essa estratégia de “contenção de danos”, adotada preventivamente
por candidatos petistas em todo o país, precipita o relacionamento entre os
ambientes políticos municipais e o nacional. Difícil pensar que prefeitos e
vereadores petistas, que se elejam sob essa perspectiva, possam se converter em
uma base sólida de apoio para o PT em 2018.
Os
primeiros movimentos do PT como oposição indicam que os candidatos municipais
que relutam em assumir sua vinculação com o partido podem ter tomado uma
atitude acertada. Ao concentrar-se na retórica do golpe contra Dilma Rousseff,
as lideranças petistas estão perdendo sintonia com a grande maioria da
população, que se encontra aflita com os desdobramentos econômicos da crise.
Tanto a impopularidade de Dilma, quanto o apoio à sua remoção do poder, têm bases
claras na tragédia econômica que atinge milhões de famílias brasileiras; não
custa lembrar que, em momentos de PIB generoso, a própria Dilma registrou os
maiores níveis de aprovação popular desde a redemocratização.
Além
de destoar dos anseios populares, o PT nacional tem se concentrado em uma
mensagem puramente negativa: “ser contra” não se constitui como plataforma
política, especialmente porque não ajuda o eleitorado a construir uma
perspectiva positiva de futuro. A incitação à histeria coletiva, de que se vive
hoje uma reedição de 1964, não tem significado para a população assalariada,
que se amedronta mesmo diante do espectro do desemprego.
No passado, a
oposição radical do PT ao Plano Real rendeu a Lula duas derrotas para Fernando
Henrique Cardoso, ambas em primeiro turno. Apenas a adesão de Lula aos
princípios básicos do Real, divulgada em carta durante a campanha de 2002, foi
capaz de colocar o petista na disputa pelo poder. Considerando o gosto com o
qual as lideranças petistas agora insistem na temática do golpe praticado
contra Dilma, é possível prever que voltaram os tempos nos quais o PT se
mostrava como o partido “do contra”. O calvário eleitoral dos petistas, assim,
será longo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário