segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Calvário eleitoral petista será longo

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 18/09/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

O processo de impeachment de Dilma Rousseff avançou sobre o calendário eleitoral, tirando muito do espaço que as campanhas municipais deveriam ocupar no contexto político brasileiro. Há muito tempo a política nacional não estava tão presente no dia a dia do cidadão médio, incitando discussões que em muito lembram as rivalidades futebolísticas. Nesse contexto, é lógico supor que os temas nacionais contaminem as disputas eleitorais municipais.
Sobre o PT, paira uma ameaça quase palpável. Por enquanto, essa força se materializa pelas medidas preventivas adotadas por candidatos petistas pelo Brasil afora: a tradicional estrela vermelha, ícone do partido desde os seus primórdios, praticamente desapareceu do material usado para divulgação em campanhas. O mesmo pode ser dito da própria imagem do ex-presidente Lula, que costumava ser inserida digitalmente nas fotos de panfletos de candidatos petistas para simular intimidade desses com o poder. Cores neutras e plataformas personalistas: essa estratégia de “contenção de danos”, adotada preventivamente por candidatos petistas em todo o país, precipita o relacionamento entre os ambientes políticos municipais e o nacional. Difícil pensar que prefeitos e vereadores petistas, que se elejam sob essa perspectiva, possam se converter em uma base sólida de apoio para o PT em 2018.
Os primeiros movimentos do PT como oposição indicam que os candidatos municipais que relutam em assumir sua vinculação com o partido podem ter tomado uma atitude acertada. Ao concentrar-se na retórica do golpe contra Dilma Rousseff, as lideranças petistas estão perdendo sintonia com a grande maioria da população, que se encontra aflita com os desdobramentos econômicos da crise. Tanto a impopularidade de Dilma, quanto o apoio à sua remoção do poder, têm bases claras na tragédia econômica que atinge milhões de famílias brasileiras; não custa lembrar que, em momentos de PIB generoso, a própria Dilma registrou os maiores níveis de aprovação popular desde a redemocratização.
Além de destoar dos anseios populares, o PT nacional tem se concentrado em uma mensagem puramente negativa: “ser contra” não se constitui como plataforma política, especialmente porque não ajuda o eleitorado a construir uma perspectiva positiva de futuro. A incitação à histeria coletiva, de que se vive hoje uma reedição de 1964, não tem significado para a população assalariada, que se amedronta mesmo diante do espectro do desemprego.
No passado, a oposição radical do PT ao Plano Real rendeu a Lula duas derrotas para Fernando Henrique Cardoso, ambas em primeiro turno. Apenas a adesão de Lula aos princípios básicos do Real, divulgada em carta durante a campanha de 2002, foi capaz de colocar o petista na disputa pelo poder. Considerando o gosto com o qual as lideranças petistas agora insistem na temática do golpe praticado contra Dilma, é possível prever que voltaram os tempos nos quais o PT se mostrava como o partido “do contra”. O calvário eleitoral dos petistas, assim, será longo.

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