segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A situação de Dilma: nem notícia boa ajuda

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 10/07/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

O noticiário político recente trouxe à tona dois fatos que aparentemente beneficiam a presidente afastada Dilma Rousseff em sua tarefa de reassumir o poder. O primeiro foi a perícia feita pela área técnica do Senado, que não apontou envolvimento direto de Dilma na camuflagem de empréstimos ilegais dos bancos públicos ao Governo Federal, as populares pedalas fiscais. Considerando os últimos meses vividos por Dilma, pode-se considerar essa uma boa notícia, mesmo tendo a mesma perícia indicado sua participação na, também ilegal, autorização de gastos suplementares por meio de decreto.
Chicanas contábeis à parte, a segunda notícia boa recente foi a divulgação de pesquisa de popularidade que mostrou não apenas uma ligeira melhora na aceitação da presidente afastada, mas também um virtual empate técnico com Michel Temer: o presidente em exercício é apenas ligeiramente mais querido pelo povo do que Dilma.
A partir dessas duas novidades, se poderia esperar uma onda de otimismo nas hostes petistas, já que falta cerca de um mês para a votação no Senado que selará o destino de Dilma. Porém, essa euforia não ocorreu: a repercussão foi mínima, restrita a declarações da própria Dilma junto à imprensa. O silêncio dos companheiros foi desconcertante, além de indicativo do clima predominante nos bastidores do petismo. Com Lula cada vez mais dedicado à sua campanha presidencial de 2018, é clara a dispersão da tropa.
A explicação para a desistência de muitos petistas da causa dilmista pode residir na própria Dilma: por exemplo, mesmo comentando os resultados da perícia técnica do Senado, a presidente afastada fez questão de mencionar seu projeto mais delirante, a convocação de um plebiscito para confirmar ou não a continuidade de seu mandato. Proposta de tal tipo causa mais danos à plataforma dilmista do que os ataques de seus detratores. Afinal, não só desacredita a presidente junto aos políticos, que arriscam perder o esforço do resgate caso o referido plebiscito negue poder a Dilma, como também esvazia o maior argumento usado em sua defesa: quem tem o do poder embasado legitimamente em 54 milhões de votos teria legitimidade de sobra para permanecer no comando do país.
Admitir a impopularidade e prometer ceder poder, como condição para recuperá-lo, é um contrassenso agudo para quem pregou a irreversibilidade do resultado das urnas. Porém, isso não é tudo: Dilma condicionou o andamento de tal proposta à sanção dos movimentos sociais. Trata-se, enfim, de instituições que não só são desprovidas de qualquer papel institucional no sistema político brasileiro, como também se mostraram atores políticos notoriamente incapazes de influenciar a opinião pública em favor do governo petista antes do afastamento de Dilma. Agora, sem o beneplácito dos cofres federais, por quê haveriam de fazer a diferença?
Sozinha e cada vez mais alheia ao cenário político nacional, Dilma Rousseff caminha a passos largos para as páginas dos livros de história, aonde entrará no agourento mês de agosto.

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