por Paulo Diniz
(publicado na edição de 10/07/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
noticiário político recente trouxe à tona dois fatos que aparentemente
beneficiam a presidente afastada Dilma Rousseff em sua tarefa de reassumir o
poder. O primeiro foi a perícia feita pela área técnica do Senado, que não
apontou envolvimento direto de Dilma na camuflagem de empréstimos ilegais dos
bancos públicos ao Governo Federal, as populares pedalas fiscais. Considerando
os últimos meses vividos por Dilma, pode-se considerar essa uma boa notícia,
mesmo tendo a mesma perícia indicado sua participação na, também ilegal,
autorização de gastos suplementares por meio de decreto.
Chicanas
contábeis à parte, a segunda notícia boa recente foi a divulgação de pesquisa
de popularidade que mostrou não apenas uma ligeira melhora na aceitação da
presidente afastada, mas também um virtual empate técnico com Michel Temer: o
presidente em exercício é apenas ligeiramente mais querido pelo povo do que
Dilma.
A partir
dessas duas novidades, se poderia esperar uma onda de otimismo nas hostes
petistas, já que falta cerca de um mês para a votação no Senado que selará o destino
de Dilma. Porém, essa euforia não ocorreu: a repercussão foi mínima, restrita a
declarações da própria Dilma junto à imprensa. O silêncio dos companheiros foi
desconcertante, além de indicativo do clima predominante nos bastidores do
petismo. Com Lula cada vez mais dedicado à sua campanha presidencial de 2018, é
clara a dispersão da tropa.
A
explicação para a desistência de muitos petistas da causa dilmista pode residir
na própria Dilma: por exemplo, mesmo comentando os resultados da perícia
técnica do Senado, a presidente afastada fez questão de mencionar seu projeto
mais delirante, a convocação de um plebiscito para confirmar ou não a
continuidade de seu mandato. Proposta de tal tipo causa mais danos à plataforma
dilmista do que os ataques de seus detratores. Afinal, não só desacredita a
presidente junto aos políticos, que arriscam perder o esforço do resgate caso o
referido plebiscito negue poder a Dilma, como também esvazia o maior argumento
usado em sua defesa: quem tem o do poder embasado legitimamente em 54 milhões
de votos teria legitimidade de sobra para permanecer no comando do país.
Admitir
a impopularidade e prometer ceder poder, como condição para recuperá-lo, é um
contrassenso agudo para quem pregou a irreversibilidade do resultado das urnas.
Porém, isso não é tudo: Dilma condicionou o andamento de tal proposta à sanção
dos movimentos sociais. Trata-se, enfim, de instituições que não só são
desprovidas de qualquer papel institucional no sistema político brasileiro,
como também se mostraram atores políticos notoriamente incapazes de influenciar
a opinião pública em favor do governo petista antes do afastamento de Dilma.
Agora, sem o beneplácito dos cofres federais, por quê haveriam de fazer a
diferença?
Sozinha
e cada vez mais alheia ao cenário político nacional, Dilma Rousseff caminha a
passos largos para as páginas dos livros de história, aonde entrará no
agourento mês de agosto.
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