por Paulo Diniz
(publicado na edição de 04/09/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
julgamento de Dilma Rousseff no Senado Federal não trouxe qualquer novidade em
relação ao processo que o antecedeu. Acusação e defesa circularam em torno dos
mesmos argumentos, repetindo-se até nos enredos emocionais dos quais se
utilizavam para cativar a opinião pública. Essa monotonia de ideias e
discursos, entretanto, traz em si a chave para a compreensão da dinâmica que
levou ao afastamento de Dilma da vida pública.
Tanto
Dilma quanto seus apoiadores, fizeram uso da palavra com vários objetivos,
exceto a busca pela conciliação com seus adversários. A retórica petista buscou
levantar o apoio da opinião pública, atrair movimentos sociais para as ruas,
apresentar os avanços sociais realizados pelas administrações petistas e, de
sua forma peculiar, defender-se das acusações que embasavam o processo de
impeachment. Porém, não se registrou iniciativa voltada para cativar os
senadores a votar pela continuidade do governo de Dilma Rousseff. O que deveria
ser o cerne da estratégia do bloco dilmista, a conquista de apoios em um
processo político, foi deixado de lado em favor de uma série de fatores que não
influiriam no resultado da votação.
A
ideia de Dilma, propondo um plebiscito sobre a continuidade de seu próprio
mandato, além de ter sido criticada pela direção nacional do PT, não dava aos
senadores qualquer perspectiva de estabilidade a partir da qual esses pudessem
planejar o futuro. Assim, afastou apoios ao invés de agrega-los.
O
descompasso entre Dilma e o ambiente político está latente há anos: em 2012, na
cerimônia de encerramento do maior evento municipalista do país, Dilma reagiu
rudemente aos tradicionais pedidos por mais recursos do governo federal, o que
motivou uma sonora vaia. Sendo os prefeitos os principais cabos eleitorais do
Brasil, Dilma nesse momento ganhou a antipatia de mais de três mil prefeitos,
de um total de 5.570 existentes no país.
Outro
episódio marcante ocorreu nos anos de 2013 e 2014, quando os deputados federais
passaram a externar com força sua insatisfação pelo atraso no pagamento de suas
emendas parlamentares pela administração de Dilma. Ponto mais sensível para a
carreira dos parlamentares, as emendas são a forma através da qual esses podem
determinar a realização de benesses em regiões específicas, geralmente aquelas
nas quais se pretende obter boas votações no futuro. A eleição de Eduardo Cunha
à Presidência da Câmara dos Deputados, portanto, foi consequência da antipatia
que o legislativo nacional já alimentava contra Dilma.
Citado
nominalmente por Dilma como culpado pelo processo de impeachment, Eduardo Cunha
foi tudo o que a miopia política da ex-presidente a permitiu ver. Reconstituindo
os fatos, é possível supor que o que mais faltou a Dilma em seus anos de poder
foi humildade, não só para conciliar interesses políticos divergentes, como
também para ouvir seus aliados, conselheiros e amigos mais próximos. Afinal,
isolamento e solidão, sejam eles pessoais ou políticos, não acontecem
repentinamente e nem por acaso.
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