por Paulo Diniz
(publicado na edição de 14/08/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Recentemente,
o comediante britânico John Oliver, em seu programa de humor político em uma
emissora norte-americana, dedicou bastante atenção à declaração da presidente
afastada Dilma Rousseff na qual ela justificava sua ausência da cerimônia de
abertura das Olimpíadas no Rio de Janeiro. Oliver descobriu algo que já é público
e notório no Brasil há alguns anos: a falta de nexo das falas de Dilma, que
constitui fonte inesgotável de material para piadas. No caso em questão, a
presidente afastada se comparou a uma famosa personagem de conto de fadas, se
confundindo depois sobre o enredo dessa história e comprometendo totalmente a
analogia inicialmente pretendida, para deleite do humorista.
Dificilmente
o Brasil recebeu tanta atenção da imprensa internacional como nos últimos
meses. Desde a crise econômica e política que culminou com a mudança de governo
em maio, passando pelo surto do vírus zika e até a preparação e realização das
Olimpíadas, tudo o que ocorre por aqui tem gerado interesse no exterior. Nesse
sentido, o patente sucesso representado pela cerimônia de abertura dos Jogos
Olímpicos serviu para mudar o humor geral predominante em vários países a
respeito do Brasil, que era marcado por desconfiança. Logicamente, essa súbita
lua de mel não impediu que os correspondentes estrangeiros se assustassem, por
exemplo, com o hábito nacional de gritar e vaiar em exagero quando assistindo a
competições esportivas: o que foi visto por muitos como deselegância, para nós
representa a liturgia de um momento extremamente importante para o imaginário
nacional.
Para
além do inusitado da situação, é interessante o debate que ela proporciona: a
maneira como somos vistos no exterior cada vez mais tem gerado debates aqui no
Brasil. Seriam justas as críticas dos estrangeiros, fruto de simples incompreensão,
ou seriam mesmo válidas para nos atentar sobre mazelas que nos acostumamos a
ignorar? Em todo caso, o certo é que estamos vencendo mais uma etapa para
superar o histórico isolamento brasileiro em relação ao resto do mundo.
A
história nacional é marcada por longos períodos de afastamento em relação ao
resto do mundo, o que fez que víssemos sempre com um misto de estranhamento e
fascínio aquilo que vinha de fora. Desde o período colonial, quando Portugal
controlava estritamente a entrada e saída de pessoas e coisas do Brasil, até a
segunda metade do século XX, quando era restrita a importação de produtos por
motivos de política industrial e falta de divisas, nossa distância em relação
aos demais países sempre foi muito mais do que geográfica.
Assim,
a colocação do Brasil no centro das atenções produz uma mudança importante na
opinião pública nacional: não apenas nos descobrimos capazes de ser
protagonistas no mundo, como também somos equiparados aos demais povos, dignos
de críticas e elogios. Definitivamente, dois lugares-comuns extremos estão
deixando de existir: Deus não é mais “exclusivamente brasileiro”, assim como
também não somos os vira-latas da matilha mundial.
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