por Paulo Diniz
(publicado na edição de 11/09/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
encerramento do processo de impeachment de Dilma Rousseff deixou no ar uma
sensação estranha: o fracionamento da votação final, entre a cassação do
mandato presidencial e a inabilitação de Dilma para ocupar cargos públicos, foi
a grande surpresa da sessão de 31 de agosto do Senado, à qual se acresceu a
vitória da ex-presidente no segundo pleito. Esse episódio, que promete gerar
consequências pelos próximos meses, é ilustrativo para evidenciar a natureza
mais intrínseca da política.
Responsável
por tornar possível a vida em conjunto, a política é obrigatória sempre que se
pretende tomar uma decisão; afinal, como espécie, evitamos viver sozinhos e, ao
mesmo tempo, não temos condições de subjugar os demais à nossa vontade. Humanos
estão envolvidos na política desde a infância: demandam, argumentam, escolhem,
exigem, cedem e, em algum momento, aceitam os termos de um acordo final. Assim,
os acontecimentos aparentemente corriqueiros do dia a dia são fruto de milhões
de negociações e decisões que são políticas em forma e conteúdo.
As
habilidades requeridas pela prática da política são, dessa forma, instrumentos
básicos para a existência humana. Quem não as aperfeiçoa, mesmo que dotado de
boas intenções e motivações altruísticas, perecerá, sendo subjugado pelos mais
hábeis na tarefa de conquistar o apoio dos demais. Esse fato, simples porém
muitas vezes cruel, vem sendo pouco lembrado no Brasil.
Na
política brasileira, o PMDB encarna perfeitamente a eficiência em vencer o jogo
da política, e nada mais do que isso. Estatísticas sobre a hegemonia do PMDB
desde a redemocratização de 1985 não cessam de ser divulgadas pela imprensa,
surpreendendo aos muitos que ainda não haviam se dado conta de que esse
silencioso reinado existia. O poder do PMDB advém, portanto, de sua simples
capacidade de fazer política: oferece condições para que os diferentes governos
viabilizem os mais tortuosos trâmites no Legislativo, um apoio praticamente
irrecusável.
Um
pouco dessa espantosa capacidade de articulação do PMDB veio à tona exatamente
no episódio do fracionamento da votação do Senado em 31 de agosto: essa
proposta criou um “ativo” político onde nada antes existia, e de repente, deu
ao PMDB algo a ser oferecido a Dilma em seu momento de ocaso. O partido pintado
como traidor pelos defensores da ex-presidente, com um rápido jogo de mãos,
logrou se redimir parcialmente junto aos petistas que ainda lutavam pelo
mandato da companheira.
A
manutenção dos direitos políticos de Dilma Rousseff vem sendo brandida como uma
vitória moral da ex-presidente, além de sinal de vacilação dos partidários do
impeachment em relação à justeza da causa que apoiavam. O julgamento sobre a
validade do fracionamento da votação no Senado, que terá início no STF, servirá
para manter à tona o assunto da cassação de Dilma por mais alguns meses,
prolongando a dúvida sobre o “pecado original” que marca o início do Governo
Temer. O PMDB, afinal, não negou sua natureza: “vendeu vento”, e mais uma vez
fez lucro.
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