por Paulo Diniz
(publicado na edição de 24/07/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
As
articulações para composição das chapas que disputarão as eleições de outubro
em Belo Horizonte finalmente estão ganhando corpo. Às vésperas do início do
período das convenções partidárias, as polêmicas começam a chegar às manchetes,
dividindo espaço com as reviravoltas de Brasília. O destaque cabe ao prefeito
Márcio Lacerda, que apontou seu sucessor preferido ao lançar a candidatura de
Paulo Brant ao comando da capital pelo PSB, causando certo alvoroço na coalizão
governista. Esse movimento, mesmo que não venha a se consolidar em candidatura
ou vitória eleitoral, representa muito mais do que uma simples barganha pela
liderança da chapa situacionista: deixa exposta a mudança na estrutura do poder
político em Minas Gerais, que começou a se desenhar na derrota tucana de 2014.
É
forçoso reconhecer que o PSDB tem demonstrado persistente indecisão na escolha
de um nome de destaque para figurar como pré-candidato da legenda ao comando da
capital mineira. Nem mesmo a presença esporádica do senador Aécio Neves foi
capaz de dar rumo às discussões internas dos tucanos. O anúncio da
pré-candidatura do deputado João Leite, nesse sentido, parece ter sido muito
mais uma resposta ao movimento de Márcio Lacerda em consagrar Paulo Brant, do
que fruto do apaziguamento no ninho dos tucanos. Afinal, experiente nas urnas,
o nome de João Leite sempre esteve em voga, e mesmo assim não conseguia superar
as fortes resistências no seio do partido.
Uma
primeira visão leva a crer que a ação independente do PSB e de Márcio Lacerda
poderiam ter tido como motivação a própria lentidão dos tucanos em escolher um
rumo político próprio. Porém, seguindo tal raciocínio, a escolha do PSDB por
João Leite tenderia a resolver a situação, provavelmente acomodando Brant no
posto de candidato a vice-prefeito.
Entretanto,
há motivos para supor que a questão é mais profunda. A derrota do PSDB em Minas
no pleito de 2014 foi arrasadora. Para piorar, o senador Aécio Neves se afastou
quase completamente da política mineira, tornando-se figura rara nas Alterosas;
isso contribuiu para desmotivar ainda mais sua vasta rede de apoiadores, tanto
em Belo Horizonte quanto no interior. O patrimônio político construído pelo
PSDB ao longo de 12 anos de governo ficou exposto, pronto a ser tomado por quem
percebesse a oportunidade; assim passou a agir Márcio Lacerda, que se lançou em
incursões pelo interior a partir de 2015, em busca de aliados entre os órfãos
da derrocada do PSDB.
O
distanciamento entre Lacerda e os tucanos, portanto, parece indicar muito mais
do que uma desavença conjuntural: é possível supor que o prefeito da capital
tenha decidido tomar a liderança da coalizão, e não simplesmente rompê-la. Aos
tucanos, hoje, Márcio Lacerda parece ter deixado a opção de seguir como
coadjuvantes na aliança que já lideraram no passado, ou enfrentar de forma
desarticulada à formidável máquina política que o PMDB, força principal do
atual governo mineiro, vem estruturando por todo o estado. É pegar, ou largar.
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