segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Márcio Lacerda e os tucanos

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 24/07/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

As articulações para composição das chapas que disputarão as eleições de outubro em Belo Horizonte finalmente estão ganhando corpo. Às vésperas do início do período das convenções partidárias, as polêmicas começam a chegar às manchetes, dividindo espaço com as reviravoltas de Brasília. O destaque cabe ao prefeito Márcio Lacerda, que apontou seu sucessor preferido ao lançar a candidatura de Paulo Brant ao comando da capital pelo PSB, causando certo alvoroço na coalizão governista. Esse movimento, mesmo que não venha a se consolidar em candidatura ou vitória eleitoral, representa muito mais do que uma simples barganha pela liderança da chapa situacionista: deixa exposta a mudança na estrutura do poder político em Minas Gerais, que começou a se desenhar na derrota tucana de 2014.
É forçoso reconhecer que o PSDB tem demonstrado persistente indecisão na escolha de um nome de destaque para figurar como pré-candidato da legenda ao comando da capital mineira. Nem mesmo a presença esporádica do senador Aécio Neves foi capaz de dar rumo às discussões internas dos tucanos. O anúncio da pré-candidatura do deputado João Leite, nesse sentido, parece ter sido muito mais uma resposta ao movimento de Márcio Lacerda em consagrar Paulo Brant, do que fruto do apaziguamento no ninho dos tucanos. Afinal, experiente nas urnas, o nome de João Leite sempre esteve em voga, e mesmo assim não conseguia superar as fortes resistências no seio do partido.
Uma primeira visão leva a crer que a ação independente do PSB e de Márcio Lacerda poderiam ter tido como motivação a própria lentidão dos tucanos em escolher um rumo político próprio. Porém, seguindo tal raciocínio, a escolha do PSDB por João Leite tenderia a resolver a situação, provavelmente acomodando Brant no posto de candidato a vice-prefeito.
Entretanto, há motivos para supor que a questão é mais profunda. A derrota do PSDB em Minas no pleito de 2014 foi arrasadora. Para piorar, o senador Aécio Neves se afastou quase completamente da política mineira, tornando-se figura rara nas Alterosas; isso contribuiu para desmotivar ainda mais sua vasta rede de apoiadores, tanto em Belo Horizonte quanto no interior. O patrimônio político construído pelo PSDB ao longo de 12 anos de governo ficou exposto, pronto a ser tomado por quem percebesse a oportunidade; assim passou a agir Márcio Lacerda, que se lançou em incursões pelo interior a partir de 2015, em busca de aliados entre os órfãos da derrocada do PSDB.
O distanciamento entre Lacerda e os tucanos, portanto, parece indicar muito mais do que uma desavença conjuntural: é possível supor que o prefeito da capital tenha decidido tomar a liderança da coalizão, e não simplesmente rompê-la. Aos tucanos, hoje, Márcio Lacerda parece ter deixado a opção de seguir como coadjuvantes na aliança que já lideraram no passado, ou enfrentar de forma desarticulada à formidável máquina política que o PMDB, força principal do atual governo mineiro, vem estruturando por todo o estado. É pegar, ou largar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário