segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Uma eleição no varejo

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 21/08/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

O cenário político em Belo Horizonte é, hoje, incomum: com 12 candidaturas confirmadas pelas conferências partidárias, e uma já abortada, o contraste em relação aos pleitos recentes é nítido. Antes, havia disputa entre blocos nítidos de poder, já hoje a fragmentação é regra. Mais do que isso, a nova legislação eleitoral impõe obstáculos adicionais aos candidatos: campanha mais curta, limitações à propaganda eleitoral gratuita e restrições às doações são os mais evidentes. Acostumados a pedir votos com ajuda de grandes veículos de mídia, plataformas de comunicação de massa e orçamentos vultuosos, os candidatos ao posto maior do Executivo local encaram agora o desconhecido.
A aposta nas redes sociais tem se destacado como preferência de alguns candidatos, sobretudo através de vídeos de curta duração. Mas é preciso notar, entretanto, a ausência de importantes nomes na utilização desse expediente, o que indica que sua escolha não é consenso.
O desafio de se alcançar o eleitor, o mais tradicional da democracia, persiste. As lições para superá-lo podem vir de onde a política eleitoral preserva suas características mais vivas: as pequenas cidades. Nesses colégios eleitorais, que contam com poucos milhares de eleitores, os principais fatores para a conquista do voto são a confiança e o contato pessoal, ambos intimamente vinculados. Votar, e mais do que isso, confiar em um desconhecido estão praticamente fora de questão nesse ambiente; esse obstáculo só se contorna quando o candidato forasteiro é endossado pessoalmente por alguma liderança já respeitada pela comunidade. Assim, mídias sociais e propaganda eleitoral gratuita podem até contribuir para reforçar atributos do candidato, porém com certeza não são decisivos na hora de conquistar votos.
Para reproduzir tal dinâmica nas grandes cidades, primeiro será demandado um incrível esforço físico dos candidatos a prefeito, movimentando-se para encontrar pessoalmente o maior número possível de eleitores, em uma estratégia para fomentar a confiança interpessoal. Porém, nem mesmo os mais dispostos seriam capazes de se encontrar pessoalmente com centenas de milhares de pessoas em pouco mais de dois meses, quanto mais de conquistar o respeito e admiração desses.
O caminho mais viável, portanto, seria o de fazer uso da capilaridade típica das campanhas para o Legislativo municipal, contando com o apoio massivo de vereadores em busca de reeleição e das centenas de outros candidatos para esse posto. Uma vez que, nem sempre as coligações partidárias para o Legislativo são construídas ou mantidas com rígida observância aos acordos partidários formais, é possível prever que seriam então as articulações pessoais de cada candidato a prefeito as responsáveis por uma campanha eleitoral de sucesso.
Quem souber se coligar, portanto, terá vantagem significativa na campanha atual. Já os candidatos a prefeito que se fiarem apenas em instrumentos de campanha massificados ou estruturas partidárias, podem ser negativamente surpreendidos.

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