por Paulo Diniz
(publicado na edição de 25/09/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
Desde
seus primeiros dias, o governo de Michel Temer vem se anunciando como disposto
a enfrentar desafios impopulares para equacionar a falência do Estado
brasileiro. A reforma previdenciária, dilema a assombrar os governantes das
últimas três décadas, se destaca nesse contexto. Hoje, a crise econômica e o
envelhecimento da população colocam combustível sobre a fogueira do déficit
previdenciário, que vem queimando há décadas.
Porém,
é importante destacar que embora estejam relacionadas com o funcionamento do
Estado, as questões da previdência social e do colapso das contas públicas
federais são problemas separados. O sistema previdenciário foi planejado para
pagar aposentadorias e benefícios laborais, tendo por base a contribuição dos
empregadores e dos trabalhadores. Ocorre que, quando receitas e despesas não
coincidem, o Estado se vê obrigado a suprir o déficit, como forma de evitar que
aposentados e demais beneficiários do sistema público sejam abandonados à
própria sorte. Anualmente, algumas dezenas de bilhões de reais do orçamento
federal são deslocadas para esse fim, deixando de ser empregados em usos como
saúde ou segurança pública. Nos anos recentes, de arrecadação farta de
impostos, a reforma previdenciária foi relegada a segundo plano, porém agora, o
grave desequilíbrio das contas públicas fez com que o governo considerasse prioridade
o estancamento desse sorvedouro de recursos orçamentários.
Mesmo
assim, a associação entre crise econômica e déficit previdenciário não é
necessariamente uma verdade completa. É certo que conter a sangria de recursos
fiscais para o equilíbrio da previdência contribui para aliviar as contas
federais. Porém, esse não é o único caminho possível, e nem o mais evidente: o
corte das despesas de custeio federais tem sido mais retórico do que prático,
ficando essas despesas ainda próximas do alto patamar do período petista. A
proposta de uma emenda constitucional que restrinja o aumento de gastos
federais no futuro, além de sujeita a questionamentos de ordem técnica, também
só tende a fazer efeito dentro de alguns anos, quando fossem ocorrer
hipotéticos aumentos de despesas. Há, assim, outros cortes de despesas a serem
feitos, além da busca pela eficiência nas ações do governo federal, que ainda
sequer foi aventada.
O
fato é que a reforma da previdência foi eleita prioridade no ataque à crise por
fatores políticos, mais do que por razões técnicas. Aqueles que teriam
condições de se mobilizar contra tais medidas, como as maiores centrais sindicais,
já fariam oposição a Temer de toda forma, dada a intimidade que mantinham com a
finada gestão petista. Assim, há pouco risco político envolvido, já que o
desgaste sofrido pelo governo seria praticamente o mesmo se não fosse tentada
reforma alguma. Quanto aos candidatos à aposentadoria no futuro próximo, esses
sofrerão em silêncio: vitimados por um governo indiferente, assim como por
representantes que privilegiam o ativismo político em detrimento da defesa dos
trabalhadores.
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