por Paulo Diniz
(publicado na edição de 31/07/2016 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)
O
recente passamento do ex-governador Rondon Pacheco ensejou uma série de
retrospectivas de sua trajetória política e administrativa; seu papel
fundamental na instalação da indústria automobilística em Minas Gerais foi
sempre destacado. Outro fato, divulgado ao mesmo tempo, foi a queda de 25,4% na
venda de veículos novos no primeiro semestre do ano, em comparação com 2015.
Aparentemente desconexas, tais informações em conjunto ilustram a importância
que a indústria automotiva ganhou na economia brasileira nos últimos anos,
sendo hoje um dos principais termômetros da crise atual.
Governador
de Minas entre 1971 e 1975, Rondon Pacheco foi eleito de maneira indireta pelos
deputados estaduais. Afinal, eram os piores anos da ditadura, durante os quais
o voto direto só era permitido para o legislativo e para o comando de pequenas
e médias cidades. Independentemente da forma como chegou ao poder, Pacheco fez
uso desse para colocar em prática um importante programa de dinamização da
indústria mineira, crucial para que o estado mantenha até hoje o posto de
segundo maior polo industrial do Brasil. A implantação da indústria automotiva
foi, na verdade, o ápice de uma estratégia mais ampla.
A
fórmula utilizada por Rondon Pacheco não era novidade, pois já vinha sendo
utilizada intensivamente no país desde meados da década de 1950. Trata-se do
receituário tradicionalmente conhecido como desenvolvimentismo, que ganhou
contornos mais precisos após ser sistematizado no final dos anos 1940 pelos
economistas da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, órgão da ONU.
Com adaptações nacionais, tal roteiro econômico incluía a concessão de
benefícios fiscais às indústrias estrangeiras que se instalassem no país,
proteção dessas contra a concorrência de produtos importados e, com frequência,
a própria participação do Poder Público como financiador ou sócio desse tipo de
empreendimento industrial. O sucesso dessa estratégia no Brasil foi retumbante,
sobretudo a partir do governo de Juscelino Kubitschek, durante o qual o país se
tornou uma nação industrial.
É
importante destacar, entretanto, que o desenvolvimentismo no Brasil teve um
componente político pouco lembrado em sua origem: em acordo com a elite
política paulista para garantir a governabilidade de sua gestão, Kubitschek
concordou em concentrar em São Paulo a onda de indústrias que era atraída ao
Brasil. Iniciativas como a de Pacheco, duas décadas depois, tiveram o
incalculável mérito de contrapor a perversa tendência de concentração da
riqueza industrial na capital paulista. O desenvolvimentismo mineiro, quase
sempre implementado com pouco apoio do Governo Federal, se destaca não apenas
pela autonomia, mas também pela tenacidade em lutar para evitar que Minas
naufragasse na pobreza.
É
fato que a luta autônoma pelo desenvolvimento de Minas não começou e nem
terminou com Rondon Pacheco, mas esse governador sem dúvida foi um de seus
destaques. Que seu exemplo inspire a atual geração de gestores públicos
mineiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário