sábado, 28 de janeiro de 2012

O dilema político do Irã

por Paulo Diniz
(publicado nas edições de 26/01/2012 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais - e do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)

  O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, é um político profissional: foi prefeito por três ocasiões – uma delas, da capital Teerã – e governador. Sendo assim, para compreendermos melhor seu comportamento futuro – principalmente em relação ao desenvolvimento de capacidade nuclear em seu país – é indispensável levar em conta que o instinto de sobrevivência política é o seu guia maior, como ocorre com políticos de todo o mundo. Sua recente viagem pela América Latina – passando por Guatemala, Nicarágua, Cuba e Venezuela – é mostra clara de que o líder persa, mais do que buscar apoios, quer mostrá-los ao mundo, indicando que não está isolado. Dessa forma, sua atitude de fazer coro à folclórica cantilena anti-americana de Hugo Chávez – que em nada serviu a seu ex-aliado Muammar Kadafi – só pode mesmo ser compreendida como esforço de propaganda, voltado para produzir uma imagem de impacto que ilustre a capacidade de Ahmadinejad construir pontes e associar interesses pelo mundo afora.
  Nesse aspecto, é importante perceber que a situação do Irã não se confunde com a de seu líder: em 2009, Ahmadinejad viu seu povo contestar violentamente os resultados eleitorais que o reelegeram como presidente; já em 2011, o mandatário persa assistiu de camarote à derrocada de quatro regimes de opressão em sua vizinhança, isso para não entrar em detalhes a respeito da – flagrantemente – injustificada invasão norte-americana ao Iraque. Em poucas palavras, o presidente iraniano sente-se pressionado por quase todos os lados, vendo claro risco sobre seu futuro político. Quanto ao regime político-social vigente no Irã, esse não está necessariamente ameaçado, pois além de trazer considerável estabilidade ao país (algo desejado por muitos, interna e externamente), pode sempre optar pelo sacrifício de Ahmadinejad, creditando a ele toda a culpa pelo desgaste internacional sofrido pelo país nos últimos anos.
  O que deverá fazer, diante desse contexto, o político Ahmadinejad? Além da busca por apoios internacionais, uma reação óbvia seria a de manter seus adversários – tanto internos quanto externos – afastados, convencidos de que uma ofensiva contra o líder iraniano não traria benefício qualquer. É exatamente esse o papel desempenhado pelo programa nuclear desenvolvido pelo governo de Ahmadinejad: enquanto exibe poder de fogo ao mundo, ele se coloca – para seu povo – como o grande protetor do país, o que estabelece um turbulento ciclo de ameaças, medo e provas de força.
  A dinâmica exposta acima é, de fato, perigosa, uma vez que ameaças vazias têm curto prazo de validade. Porém, um conflito armado – qualquer que seja sua dimensão – certamente fragilizaria o governo, facilitando sua derrubada por adversários estrangeiros ou por opositores internos. Para sobreviver politicamente, Ahmadinejad deve mesmo manter alta a tensão em sua região, tentando conduzir a repercussão dos eventos a seu favor. Como, entretanto, não participa desse jogo sozinho, o risco de o presidente o Irã perder o controle da situação é sempre alto.

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