sábado, 28 de janeiro de 2012

Muitos caciques e poucos índios

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 17/05/2011 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

  A discussão a respeito da oposição no Brasil, hoje, está extremamente acalorada. Dois fatos novos, nos últimos meses, foram responsáveis por "desarrumar a casa" do PSDB, sendo esses a criação do "novo" PSD, e o conseqüente esvaziamento do Democratas. Passando ao largo de alguns aspectos conjunturais, já bastante abordados pela crítica especializada, concentremos nossa atenção sobre uma questão estrutural, essencial para que se possa compreender o atual momento da política brasileira.
  Considerando a estratégia adotada ao longo de sua trajetória, construir e manter uma militância partidária fiel nunca ocupou lugar de destaque na escala de prioridades do PSDB. Predomina o raciocínio de que, em momentos de disputa eleitoral, a existência da militância não se constitui como fator decisivo: via de regra, o militante em potencial é um eleitor já fiel ao partido, de forma que durante as campanhas interessa muito mais atrair novos eleitores, mesmo que apenas momentaneamente.
  Todo esforço é concentrado, assim, no reforço da figura do cabo eleitoral, responsável direto pelo convencimento do eleitorado "indeciso". A última campanha tucana ao Governo de Minas deixou essa opção extremamente clara.
  A figura do militante, entretanto, é essencial para a vida partidária, principalmente durante as "entressafras" eleitorais, e tal constatação não deriva da validade da democracia "por si só". A discussão realizada pelos militantes - muitas vezes em caráter informal - representa o questionamento dos métodos adotados, a análise dos resultados obtidos pelo partido, a adequação entre fins e meios, enfim, representa a inteligência do partido sendo exercitada.
  Recorrendo à sabedoria popular, "muitas cabeças" pensam melhor do que "algumas poucas", e poder contar com uma significativa amostra da sociedade pensando em função do partido – sem qualquer custo - representa uma possibilidade da qual nenhum partido deveria abrir mão.
Ao optar por manter as discussões e decisões concentradas nas mãos de um grupo reduzido, o PSDB garante uma aparente estabilidade interna (que hoje se prova ilusória), à custa de perpetuar-se na repetição dos mesmos erros.
  Tem-se visto, na comparação em relação ao PT, que o mais importante não é mesmo o resultado que aparece no placar, mas sim o tamanho da "torcida organizada" que se tem. Tomando de empréstimo o termo cunhado por conhecido dirigente esportivo mineiro, o PSDB tem se contentado com a conquista de "simpatizantes", ao invés de buscar ter torcedores apaixonados.

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