sábado, 28 de janeiro de 2012

Uma "faxina" estratégica

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 22/08/2011 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

  As recentes denúncias de corrupção nos Ministérios dos Transportes, Agricultura e Turismo representam, do ponto de vista político, o maior acontecimento da Presidência de Dilma Rousseff. Não há dúvida a esse respeito, principalmente quando se considera a forma como a presidenta tem abordado a questão, e os efeitos dessa postura na esfera política nacional – que devem se estender até 2014.
  A proposta de realizar uma “faxina” no Governo Federal, a cada vez que surgirem novas denúncias, fez com que Dilma passasse a ter a possibilidade de melhorar sua imagem pública a cada nova notícia que comprometer as credenciais éticas de seu governo. Enquanto Lula se colocava como “o capitão do time” de ministros, insistindo na ausência de corrupção em seu governo, Dilma opta por preservar sua credibilidade pessoal, deixando que sua equipe seja julgada a partir do resultado de seu desempenho, e punida pelas mãos da própria presidenta.
  Também é importante destacar que a “faxina” de Dilma constitui a principal bandeira da oposição desde 2003. Não seria possível para Dilma Rousseff, durante a campanha de 2010, escolher tal proposta como prioritária, pois isso criaria antagonismo imediato em relação a Lula, seu principal cabo eleitoral. Vencidas as eleições, porém, nada impede que a presidenta se proponha a corrigir as falhas de seu antecessor, mostrando que a tolerância com a corrupção não deve ser regra nas administrações petistas. Promessa futura do PSDB em 2006 e 2010, a ética na administração pública vira verbo conjugado no presente quando Dilma realiza sua “faxina”, o que esvazia boa parte da capacidade da oposição alimentar as esperanças do eleitorado. Está aberta, assim, a “temporada de caça” a um novo discurso – com apelo popular – para os tucanos.
  A mudança de postura que Dilma adota em relação a Lula tem, também, outro importante significado: inicia a “marca própria” de sua presidência, deixando claro que ela não se sente obrigada a traçar exatamente o mesmo caminho de seu antecessor. Saindo definitivamente “da sombra” de Lula, Dilma passa a construir bases concretas para sua reeleição em 2014, construindo legado próprio que deve querer preservar e ampliar.
  É necessário, porém, grande atenção em relação àqueles que sofrem os efeitos imediatos das “faxinas” de Dilma: são todos aliados do PT, responsáveis pelos interesses do governo no Congresso, e não devem aceitar pacificamente serem “varridos para debaixo do tapete”. O PR, por exemplo, já reagiu liberando sua bancada no Senado para votar como cada membro achar melhor; o sinal amarelo já está aceso.
  Mesmo com tal desafio pela frente, Dilma Rousseff já tem a comemorar que, agora, detém a iniciativa no jogo político nacional; cabe aos demais participantes desse – aliados ou opositores – a tarefa de reagir aos movimentos já feitos pela presidenta. Trata-se, enfim, de uma grande vantagem.

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