sábado, 21 de janeiro de 2012

Coréia do Norte: A máquina e seu comandante

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 24/12/2011 em O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais - e na edição de 23/12/2011 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)

Falecido o líder norte-coreano Kim Jong-il, o mundo se angustia a respeito dos passos que serão tomados pela potência nuclear por ele comandada. A sede por informações a respeito do novo líder do país é enorme, porém, mesmo com poucos dados disponíveis, fazem-se muitas conjecturas. A maioria das previsões, infelizmente, acaba derivando para a necessidade de se “esperar pelos próximos sinais” a serem emitidos pelo filho mais novo do líder falecido, Kim Jong-un.
Não é necessário, entretanto, muita espera para se perceber algumas linhas gerais de ação que a Coréia do Norte provavelmente adotará no futuro próximo. Tomemos o fato básico de que se trata de uma ditadura extremamente fechada, e que controla a vida da população em cada detalhe; assim, para que tal sistema político-social funcione, é necessário um aparato estatal – e policial – amplo e poderoso. Há, então, uma “máquina” de governo e controle da sociedade, militarizada e – principalmente – operada por um grande número de pessoas.
A existência de “máquinas” ditatoriais como a norte-coreana é comum aos mais longevos regimes totalitários do século XX, como a Itália de Mussolini, a União Soviética de Stálin, e Espanha de Franco, e Portugal de Salazar, para ficarmos com os exemplos mais evidentes. É fácil perceber a importância que tiveram os “comandantes”, em cada uma dessas ditaduras: governando por décadas a fio, tais líderes construíram inúmeros mecanismos e instituições de opressão, voltados unicamente para a manutenção de seus regimes. A relação entre esses “comandantes” e suas “máquinas” ditatoriais sempre foi, assim, muito próxima, mas há casos nos quais as criaturas sobreviveram a seus criadores: em Portugal, por exemplo, o regime perdurou por mais quatro anos após a morte física de Antônio de Oliveira Salazar (seis anos, considerando seu período de doença).
A Coréia do Norte parece, dessa forma, se configurar como um desses casos nos quais as pessoas que compõem a “máquina” ditatorial, mesmo que individualmente fracas, constituem o principal poder do país quando unidas a serviço do regime. Colocando em outras palavras, tal “máquina” prescinde de um comandante para manter suas atividades.
O fundador da Coréia do Norte, Kim Il-sung, faleceu em 1994 após se manter no poder por mais de quatro décadas, legando a seu filho uma “máquina” ditatorial estruturada e em pleno funcionamento. O mesmo ocorre hoje, com a escolha do neto do “comandante” original para o lugar – cada vez mais simbólico e honorífico – de líder da nação. Pouco importam, nesse contexto, as qualificações e o passado de Kim Jong-un, que agora assume o poder: a “máquina” ditatorial permanece ativa, zelando para que nada mude, e para que seus próprios interesses – o poder e os privilégios de cada um dos burocratas e militares do governo – continuem preservados.
Quanto à paranóia nacional em relação a um ataque estrangeiro, essa é a principal justificativa para a existência de um aparato policial-militar tão extenso sobre a população da Coréia do Norte. Portanto, a agressividade e isolamento desse país devem permanecer os mesmos, por bastante tempo.

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