sábado, 21 de janeiro de 2012

A oposição civil e seu legado para o futuro

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 18/12/2011 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais)

A presença do ministro Fernando Pimentel nas manchetes do noticiário nacional, suspeito de relações antiéticas com empresários nos anos de 2009 e 2010, tem sido destacada por muitos como o início de uma seqüência já consagrada nesse primeiro ano de administração Dilma Rousseff. Com variações apenas na duração e intensidade das etapas, esse roteiro se inicia com denúncias por parte da imprensa de grande circulação, que são rapidamente negadas pelo governo e pelo suspeito; novas denúncias surgem – ou, aprofunda-se as originais – enquanto o ministro em evidência resiste em silêncio por mais alguns dias, até renunciar sob o pretexto de outras razões quaisquer.
Importante perceber que, nesse enredo, o papel da oposição é meramente reativo – próximo de nulo. Quase sempre, busca convocar os suspeitos a prestarem explicações junto a alguma comissão permanente do parlamento, na tentativa de se amplificar o impacto das denúncias e, tentando assumir publicamente a voz de acusador, auferir algum lucro político do episódio. Geralmente, fracassam em – ao menos – um desses quatro objetivos, o que torna ainda menor seu papel no contexto político como um todo.
Muito fácil, por outro lado, é notar que o verdadeiro protagonismo nessa dinâmica de exposição e demissão de ministros cabe, sem sombra de dúvida, à sociedade civil, especialmente à imprensa que lhe dá voz. Há quem discuta a importância das recentes manifestações populares anti-corrupção, mas não há dúvida quanto a quem alimenta a indignação de tais cidadãos: a exposição dos malfeitos dos ministros do Governo Dilma, feita pela boa imprensa brasileira.
Se por um lado, há muito o que comemorar devido à força de resistência de nossa sociedade, por outro devemos muito nos preocupar no que se relaciona com os políticos de oposição ao Governo Federal. Por quê toda a indignação popular contra a corrupção no governo não consegue penetrar o sistema político brasileiro? Não deveria esse – em especial, o Poder Legislativo – representar a vontade popular, hoje tão claramente exposta na imprensa e nos gritos da maioria dos cidadãos? Onde se encontra a “barreira” que desvia a direção da indignação popular: na dinâmica própria do Legislativo, no funcionamento dos partidos políticos, ou no próprio perfil dos parlamentares eleitos pela oposição? Muito importante investigar tal aspecto, pois não se consolida uma democracia apenas derrubando ministros.
A participação popular no jogo democrático, quando não se cristaliza em medidas concretas – gerando a mínima relação de causa e conseqüência para quem se envolve – tende a se esvair rapidamente. Tal efeito não só dificulta mobilizações futuras, como também acaba por justificar o senso comum de que “a política deve ser deixada aos políticos”, não sendo assunto da alçada das “pessoas comuns”. A resistência civil que hoje vemos acontecer pode não produzir mais do que belas fotos nos livros de história do futuro, se não lograrmos direcionar tal ímpeto para o seio de nosso sistema político. Esse é, hoje, o maior desafio da democracia brasileira.

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