sábado, 21 de janeiro de 2012

Uma nova tendência na política brasileira

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 28/06/2011 de O Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais)

A compreensão do cenário político de Belo Horizonte, já bastante agitado em torno das eleições de 2012, demanda a análise de alguns fatores estruturais, que vão além da formação das alianças políticas. O perfil – político, administrativo e até pessoal – do prefeito Márcio Lacerda, por mais que não pareça, pode ser um dos elementos mais importantes para o futuro político local, estadual e nacional.
A eleição de Márcio Lacerda, em 2008, representou o fortalecimento de um modelo bastante específico no Brasil democrático: o “político apolítico”. Suas características mais importantes são a priorização de questões administrativas, o uso de novas técnicas gerenciais, o distanciamento – tanto quanto possível – das articulações político-partidárias, e a consequente delegação de tal tarefa a parceiros. Também deve ser destacada a ampla gama de forças e de partidos que, via de regra, compõem a base política de sustentação dos governantes que assumem tal perfil “apolítico”: nunca é demais lembrar o ineditismo da aliança entre PT e PSDB que, em 2008, tornou possível a eleição de Lacerda ao comando da Capital Mineira.
O que poderia se tornar mera peculiaridade da política belo-horizontina, popularizou-se como modelo: em 2010, os mineiros assistiram à eleição de Antônio Anastasia ao Governo Estadual, assim como à escolha de Dilma Rousseff à Presidência da República, ambos exemplares perfeitos de “políticos apolíticos”, e todos também sucedendo aos governantes extremamente populares que os apoiaram. As semelhanças entre Lacerda, Anastasia e Rousseff são claras o suficiente para que possamos identificar uma nova tendência na política brasileira democrática.
Qual seria, então, o futuro de tal tendência? Parte da resposta está sendo dada desde janeiro de 2009, através das ásperas disputas por espaços institucionais no âmbito da Prefeitura de Belo Horizonte, o que é confirmado também pelos embates federais entre PT e PMDB ao longo do presente ano. No Governo de Minas, a discrição das partes envolvidas e a aparente tranqüilidade é fruto de um processo de transição mais longo, iniciado com a renúncia de Aécio Neves em março de 2010, e que também ainda não se completou.
Resta saber, entretanto, qual futuro as urnas guardam para a geração de “políticos apolíticos” que hoje governam Belo Horizonte, Minas e o Brasil. As eleições municipais de 2012 em Belo Horizonte representam, assim, um teste inédito para tal modelo político, pois apontará problemas a tempo desses serem solucionados para as disputas de 2014. Mais uma vez, os destinos da política brasileira passam primeiro por Minas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário