sábado, 21 de janeiro de 2012

A escolha de Marina

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 02/08/2011 da Tribuna de Minas - Juiz de Fora, Minas Gerais - e na edição de 06/08/2011 de O Tempo - Belo Horizonte)

Recentemente, a queda do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, acabou por ofuscar notícia de extrema importância para o panorama político nacional: a desfiliação de Marina Silva do Partido Verde. Tal fato tem proporções ainda maiores do que os quase 20 milhões de votos obtidos por Marina nas eleições de 2010, pois afeta o cenário do pleito presidencial de 2014.
Para compreender o desempenho de Marina Silva em 2010, é preciso ver sua votação como uma conquista pessoal. Antes de mais, a ex-Ministra do Meio Ambiente é uma agregadora natural: reuniu em torno de si os eleitores ambientalistas, os evangélicos, os ex-petistas, os românticos (órfãos de alguém que incorporasse o papel de “cavaleiro da esperança”, que já foi de Lula), os descontentes com o governo petista e, principalmente, a grande parcela do eleitorado que aspira por uma terceira opção política viável, capaz de superar o dilema PSDB versus PT. Por isso, Marina Silva não tem – em um primeiro momento – sua posição fragilizada como concorrente à Presidência em 2014.
Porém, resta a ser feita a escolha de um novo partido, e a melhor opção será a que possa manter intocada a capacidade de agregação de apoios – e de votos – que tanto caracteriza Marina Silva. Nesse sentido, a aproximação de Heloísa Helena e de seu PSOL pode representar um passo em falso: dogmático e purista em suas propostas e atitudes, o PSOL representa um público de iguais características, portanto, restrito.
Poucas opções partidárias estão, por sua vez, à disposição de Marina no que tange à aliança de partidos que hoje apóiam Dilma Rousseff. Isso porque são poucas – se houver – as agremiações dispostas a arriscar perder a atual colheita de bons frutos, decorrente da adesão à causa governista, em favor de uma vaga perspectiva de comando do Executivo Federal.
Junto à oposição, entretanto, Marina Silva talvez tenha mais facilidade para encontrar dissidentes do projeto tucano de volta ao poder. O PPS, por exemplo, tem se destacado muito mais pela oposição ao governo petista do que pela proximidade do comando de oposição realizado pelo PSDB; são posições coincidentes, em muitos momentos, mas não por isso equivalentes. Trata-se, também, de uma legenda bem mais próxima das origens ideológicas de Marina Silva, uma vez que o PPS de hoje é uma versão “modernizada” do tradicional PCB.
Opções à parte, cabe à ex-Senadora acreana preservar sua capacidade natural de agregação de apoios junto às mais diversas parcelas da sociedade brasileira. Descuidar desse aspecto levaria Mariana Silva, em 2014, a trilhar o triste caminho percorrido por Ciro Gomes em 2002: de catalisador das esperanças de renovação da política brasileira, passou rapidamente à posição de ator isolado, de alcance regional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário