sábado, 21 de janeiro de 2012

O lugar da ética no cálculo político

por Paulo Diniz

(publicado nas edições de 24/02/2012 do Tempo - Belo Horizonte, Minas Gerais - e de 19/01/2012 do Correio do Sul, Varginha – Minas Gerais)

A conclusão dos mandatos municipais em 2012 tem levado a imprensa nacional a realizar um cálculo interessante: o do número de prefeitos que não concluíram suas gestões devido à cassação de seus mandatos, assim como da ocorrência de eleições extemporâneas para a escolha de novos prefeitos. Estado com o maior número de municípios no Brasil, Minas Gerais apresenta quadro bastante negativo nessa área: 40 prefeitos cassados até novembro de 2011 e 22 eleições extemporâneas já realizadas, com destaque para as seis trocas de prefeito realizadas na cidade de Conceição do Mato Dentro desde janeiro de 2009.
Não há dúvida de que, para o eleitor que irá às urnas em outubro escolher os comandantes dos 853 municípios mineiros, esse cenário é desanimador. Porém, a situação futura pode ser positiva, pois as cassações de mandatos ocorridas no período 2009-2012 podem produzir uma alteração profunda na política local mineira: a ética pode penetrar, de forma definitiva, no próprio mecanismo de cálculo político das lideranças municipais.
Para compreender essa nova tendência, é preciso levar em conta o quão complicada é a formação de uma coalizão política para a disputa eleitoral. Além da tarefa básica de se agregar apoios os mais numerosos e distintos – com vistas à obtenção da maior votação possível –, é indispensável fazer também concessões aos interesses desses apoiadores, correndo o risco de desagradar alguns quando se concorda com outros. A participação no futuro governo deve ser organizada a partir do desempenho de cada um na campanha eleitoral (pois nem sempre o apoio prometido se concretiza) e, por fim, há a questão espinhosa dos gastos de campanha. Após tanta negociação e composição, a cassação do mandato de um prefeito significa que todo esse trabalho foi perdido, e que deve ser refeito em torno de uma nova administração. Sendo assim, a melhor ação possível seria mesmo a prevenção, realizada pelos atores políticos locais através da escolha de candidatos sem pendências junto ao Judiciário para encabeçarem suas chapas eleitorais.
 O novo cálculo político descrito acima, que inclui a ética como seu elemento central, pode ter efeito maior do que a tão discutida Lei da Ficha Limpa, especialmente porque a seleção dos candidatos aptos seria feita espontaneamente, no âmbito do próprio meio político. A grande diversidade de municípios que tiveram seus prefeitos cassados entre 2009 e 2012 – variando da metropolitana Ipatinga até a pequena Santa Rosa da Serra, com pouco mais de três mil habitantes – indica que essa tendência deve ser ampla, com o pleito de outubro apresentando considerável nível de renovação política em todo o estado.
Cabe ao eleitor, por fim, um papel crucial na consolidação dessa nova tendência política: o de referendar, através do voto, a escolha de candidatos que agreguem a qualidade ética à competência administrativa e à habilidade política. Agindo assim, ficará claro a todos que a viabilidade de uma plataforma política vai depender, antes de tudo, da honestidade daqueles que a compõem.

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