quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

As coligações municipais e a vontade do eleitor

por Paulo Diniz
(publicado na edição de 31/01/2012 do Correio do Sul - Varginha, Minas Gerais - na edição de 02/02/2012 do Correio de Uberlândia - Uberlândia, Minas Gerais -, na edição de 09/02/2012 da Tribuna de Minas - Juiz de Fora, Minas Gerais - e na edição de 23/02/2012 do Jornal de Uberaba - Uberaba, Minas Gerais)

  As eleições municipais de outubro deverão trazer à tona uma série de aspectos curiosos que marcam a diversidade dos 5.565 municípios brasileiros, geralmente bastante divulgados pela imprensa: cidades que registram empate entre candidatos, chapas únicas disputando prefeituras em todo o país, slogans de campanha inusitados, dentre outros aspectos fora do comum. Entretanto, ocorrências de um tipo específico são equivocadamente incluídas nesse conjunto de “curiosidades da política local”: trata-se das alianças formadas, em várias cidades, entre partidos que são adversários em âmbito estadual ou federal. Aparentemente sem importância, esse erro leva à valorização de uma visão centralizadora da representação popular na esfera política, o que equivale a dizer, em poucas palavras, que só os grandes nomes da política estadual e federal seriam capazes de perceber os verdadeiros desejos do povo.
  Para compreender como se dá tal inversão de valores, é preciso ter em consideração que a esfera municipal é aquela mais próxima do dia-a-dia do cidadão; quando se trata de cidades de pequeno porte, inclusive, a interação entre eleitos e eleitores é direta e diária. Dessa maneira, fica tremendamente mais fácil a representação dos interesses da população pelas lideranças políticas locais: se é criada uma coligação de partidos, é forte a possibilidade de que essa tenha sido reunida em torno de propostas específicas para a cidade, enfim, de um projeto de governo. Afinal, as disputas locais são sempre mais acirradas, e as queixas da população, mais enfáticas e constantes.
  Por outro lado, as lideranças partidárias de âmbito estadual e federal não possuem tal contato direto com a população; até mesmo pelo fato de que representam grupos de cidadãos muito maiores e dispersos pelo território. Sendo assim, as afinidades entre partidos estão muito mais relacionadas com o cotidiano da política – como a troca de apoios mútua e constante que viabiliza a sustentação de um governo – do que com projetos de ação em especial. Infelizmente, são poucos os exemplos – em estados e na esfera federal – de projetos que contaram com apoio suprapartidário, de forma que no Brasil a linha divisória entre governo e oposição é extremamente rígida, fazendo poucas exceções a questões técnicas.
  Tendo esse quadro em vista, como questionar a legitimidade e a consistência das coalizões municipais que se formarão para as eleições de outubro? Mesmo a mais polêmica delas – reunindo PT e PSDB – certamente se baseia muito mais no conteúdo progressista de ambos os partidos, do que as alianças que esses fazem com outras forças políticas em âmbito federal e estadual.
  A dinâmica de alianças vigente nos municípios, longe de constituir a aberração que muitos apontam, está de fato focada em plataformas e projetos de interesse comum, que acabam por concretizar a ideologia em esfera local. Essas coalizões representam, assim, maior proximidade em relação à vontade popular, o que deveria inspirar a formação das bases políticas para as eleições estaduais e federais de 2014.

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